Reproduzo aqui entrevistas que fiz no ano de 2010, com homens e mulheres que faziam parte de um exército de guerra que veio para a Amazônia lutar na selva, atendendo chamado do governo brasileiro para defender os interesses da nação. Cinco anos depois, a maioria já não está mais entre nós. morreram esperando a recompensa prometida que só veio em 2014 numa minguada quantia, graças ao sacrifício da Deputada, Perpétua Almeida, que sofreu duros ataques em campanhas eleitorais, de políticos que contrários agilização da liberação do beneficio. A reportagens pedia mais
MAIS
RESPEITO A ESSES COMBATENTES DE SELVA. Eles são nos pais, Avôs, Bisavôs e tataravôs.
Edson Machado Portela
Nesta semana a série MAIS
RESPEITO A ESSES COMBATENTES DA SELVA, traz o depoimento
do Cearense de Cratús,Edson Machado Portela 95 de idade.
voz cansada, me recebeu em sua casa no final da tarde de Quinta-Feira , dia 16.
num determinado momento pediu para interromper a conversa,
alegando cansaço, após um pausa começou a conversar e não parava mais.
Diferente de muitos Arigós que vieram para Amazónia pelo esforço de
produzir borracha para no período da guerra e motivado pela propaganda de
ganhar dinheiro fácil, seu Edson, veio para Tarauacá com seu
pai, um irmão e mais de 20 parentes.
"
Eu sai da minha terra em11 de Março de 1944, era a época da
guerra, a gente tinha que escolher, ir pra guerra ou vir cortar seringa.
Pegamos o Navio em Sobral de uma companhia da América do Norte que vinha do
Piauí. Eu tinha 30 anos de idade. O ministro da Guerra era o Eduardo Gomes,
ficamos três dias em Fortaleza tirando documentos, pegando Instrução e
alguns objetos para a viagem, pratos colher, essas coisas. em seguida
partimos para Belém.
O nosso navio vinha acompanhado por outro navio para nos proteger dos
ataques dos submarinos. O nosso Navio era muito grande, tinha Três andares
Trazia umas 2000 mil pessoas. Quando Chegamos em Belém ficamos mais de 8
dias esperando outro navio e pegando instruções. Ai pegamos um Navio da
companhia Sinaypa de nome colibri para Manus.
Em Manaus passamos 28 dias, depois pegamos o Navio e viemos
até Carauari e ficamos esperando outro navio menor com nome de Chata.
Saímos de lá viemos para Tarauacá e depois seguimos
viagem direto para seringal União no alto Tarauacá.
Quando chegamos lá ninguém cnsegui trabalhar,
a Cesão ( malária) pegava todo mundo, era muito sofrimento, uns
doentes outros morrendo, meu pai e muitos parentes que vieram comigo morreram
de Cesão.
Vendo que lá era difícil, muita doença e ruim de leite, fui parar
no seringal Cecy, nas cabeceiras do Rio murú. Fiquei por Lá uns
tempos e depois varei pela mata e fui para
no Seringal Jaminawá na cabeceiras do Rio Tarauacá, onde
trabalhei por muitos anos. na época o sofrimento era grande, não existia médico
nem medicamento, a gente se socorria com o remédio da mata. a gente também
tinha muito medo das onças, tinha onças demais, quando a gente saia para a
estrada esturrava onça para todo canto.
Eu sempre fazia muito borracha pensando tirar um saldo para volta ao
Ceará, com muita dificuldade, em 1953 eu consegui voltar na minha terra, mas a
maioria dos que vieram comigo morreram e não conseguiram voltar. Morreu muita
gente de Cesão nesses seringais, morreu muito mais do que na guerra.
Os que foram para guerra hoje ganham aposentadoria muito melhor que a
nossa , que sofremos muito mais. dizem há muito tempo que temos o direito de
ganhar igual aos que foram oara guera, mas até agora nada.
Nazaré Batista Cruz
Nesta semana a série MAIS
RESPEITO A ESSES COMBATENTES DA SELVA, traz o depoimento
da Cearense de Quixadá,
Nazaré Batista Cruz. Diferente de outros combatentes que vieram para o Acre, ela veio acompanhados os
seus pais quando tinha apenas 2 anos de idade. casou se no Acre com
apenas 14 anos de idade, depois de muito sofrimentos viu seu marido morrer
de impaludismo (malária) e lhe deixar sozinha com 12 filhos para
sustentar. Dona Nazaré conta barbaridade que presenciou e viveu nesse período,
mas como a maioria dos combatentes de selva, o que ela mais lamenta é nunca
mais ter voltado ao ceará e encontrado alguém da sua terra natal.
"Nazaré Batista da Cruz e seu
Maranhão, com quem casou se após o falecimento do seu primeiro esposo
e estão juntos até hoje
Quando eu sai da minha terra e vim para o Acre, eu tinha dois anos, minha mãe
que se chamava Raimunda soares da cruz e meu pai era chamado
João Batista da Cruz, eles saíram do Ceará em 1940 quando sai de lá
eu tinha 02 anos de idade. Lá no Lá no Ceará nos morávamos no município
de Quixadá, morava toda nossa família
Quando nós chegamos aqui no Acre eu ainda era pequena e nós fomos morar
no seringal Transual no rio Murú. Lá passamos bastante
tempo e eu já moçota comecei a ver a exploração dos patrões com
os seringueiros que era um verdadeiro carrancismo. Naquela época
eu já mocinha e vendo como os patrões do meu pai faziam com os seringueiros.
Eu me arrisquei a cortar seringa para comprar os cortes para eu fazer as minhas
roupas. Eu me lembro uma vez que eram dois amigos que vieram do Ceara, aí um
deles virou patrão de seringal, e ele assim como os outros, começou a
coisas absurdas na hora de pagar o saldo dos seringueiros,
esse cearense que se tornou patrão já tinha um buraco na parede da
loja que dava certinho no cano do rifre, quando
o seringueiro vinha acerta de contas ele entrava dizendo que ia pegar
o dinheiro e o seringueiro ficava sentado numa cadeira, lá dentro ele
pegava o rifre botava no buraco da parede e metia fogo
no seringueiro.
Tudo isso acontecia na frente do barracão, ele matava e ninguém fazia nada, Não
existia justiça. Quando foi um dia o amigo dele, que veio do Ceará junto com
ele foi acertar de contas, só que ele já sabia de tudo e levou um rifle,
quando o patrão ajeitou a conta dele e foi pegar o dinheiro
o seringueiro meteu bala nas costas dele.
Eu me casei ainda nova como 14 anos de idade, depois de 10 anos de casada meu
marido morreu de impaludismo, morreu a míngua, na época não existiam nem
médico nem medicamento, ninguém sabia o que era isso. Se adoecesse só ficava
bom por milagres. Meu marido morreu e eu fiquei com 12 filhos para criar, mas
eu não esmoreci, levava meus filhos para me ajudar no corte da seringa. Até que
arrumei outro marido e tive mais 06 filhos e até hoje estamos casado.
Agora uma coisa que me dói muito é que eu nunca mais tive notícia da minha
família que ficou no ceará, eu tenho muita vontade de
manter contato como eles, mais, fica difícil, pois não sei de nada
sobre eles e o dinheiro da aposentadoria não dá pra comer, comprar os
remédios e pagar passagem daqui até o Ceará".
Joaquim Caxias da Silva
Nesta semana a série MAIS RESPEITO A ESSES COMBATENTES DA SELVA, traz o
depoimento do Potiguar que em Tupi quer dizer, "comedor de camarão".
Natural de Angicos, região Litorânea do Rio grande do Norte. Joaquim Caxias da
Silva Seu Caxias nasceu no dia 02 de outubro de 1923, saiu de sua cidade em
1939, quando tinha 16 anos, e chegou ao Acre em 1940 após trabalhar alguns
meses nas cidades de Fortaleza, Belém e Manaus. Joaquim Caxias é um dos poucos
que teve a oportunidade de voltar a terra natal e ainda encontrar algumas
pessoas da família. A seguir seu depoimento.
“A nossa vinda para o Acre deu-se principalmente devido à grande seca que
sofríamos no Nordeste. Suportamos dois anos o sofrimento da falta de água, mas
fomos obrigados a sair do interior onde morávamos e nos mudar para o Agreste.
Permanecemos um tempo lá trabalhando braçal e depois mudamos novamente para a
Capital onde chegou o alistamento para vim para o Amazonas, ninguém falava em
Acre só em Amazonas.
Embarcamos na capital
Natal, no navio Itapé às sete horas da noite e às sete horas do outro dia
viajamos. Nossa viagem foi muito arriscada, fomos perseguidos por submarinos,
passamos a noite com o navio encalhado, no dia seguinte chegaram dois distróia
americano, seguido de um avião chamado zepilinho que nos acompanhou até
Fortaleza.
Fomos de Fortaleza para
Belém e lá passamos dois meses, esse tempo que ficamos lá, fiquei trabalhando
em uma cerâmica de borracha. Depois disso, embarcamos em no navio Almirante
Alcerguai para ir até Manaus. Chegando lá, nos hospedamos na “Hospedaria
Pensador”, onde fiquei um mês trabalhando, lembro-me que estava justamente
nesta hospedaria quando completei 17 anos, e lá fomos listados para vim para o
Seringal São Pedro, não sabíamos nada sobre esse lugar, quem nos trouxe foi
Jose Afonso do Nascimento , um amazonense.
Embarcamos num gaiola Aimoré e chegamos em Eirunepé, onde fizemos uma baldeação
para a Chata Paraíba e nela chegamos até a Foz do Envira, onde estava o patrão
que representava o seringal São Pedro. Um seringal abandonado há 35 anos, não
sabíamos nem conhecíamos nada, logo fomos chamados de “brabos”. Trabalhamos um
bom tempo na foz do Envira, tirando lenha para o navio que nesse tempo
queimavam lenha. Depois de concluir o serviço nosso patrão mandou um senhor por
nome Gilmar, nos levar até o seringal, aonde chegamos por volta de três horas
da tarde, debaixo de uma grande chuva, que demorou até umas sete horas da
noite, pegamos a chuva todinha, não tínhamos uma lona sequer para nos abrigar e
esconder da chuva. Um dos rapazes que estava com a gente tinha um terçado e um
machado sem gume e com eles tiramos palhas de toda espécie, até palha com
espinho, porque não conhecíamos nada. Oito horas da noite estávamos com uma
lanterna, procurando um cantinho para ficar debaixo e atar as redes. Depois de
três dias chegou um enviado do nosso patrão, trazendo uma pedra de amolar e os
terçados pra gente fazer um serviço junto com ele. Era um galpão de 25 metros,
para acumular as 80 famílias. Ainda não tinha chegado todo mundo, nós éramos os
“avulsos”, chamados assim, porque éramos solteiros, fizemos o galpão e depois
chegou o patrão com o restante do povo. Foi quando começamos a cortar seringa,
e aí, começou a adoecer e morrer gente. Eu fui um dos tais, só em impaludismo
foi um ano, quase não fico bom. Muitas vezes por causa dessa doença, caía pela
estrada enquanto cortava seringa e quando despertava estava todo mordido por
uma formiga chamada taioca. Chegava em casa, tomava um gole de café e voltava
de novo para cortar, no final da tarde chegava com o leite jogava no defumador,
quando o companheiro chegava da estrada eu já estava caído, ele terminava de
defumar, fazia a janta e eu não agüentava mais nem levantar. Fiquei assim
durante muito tempo, mas graças a Deus não tive a má sorte de morrer à mingua
como muitos de nossos companheiros.
Quando sai de minha terra
pensei que iria para a guerra, foi pra isso que me alistei, mas não foi
possível, os que tinham quer ir já tinham ido e por isso resolvi vim pra cá.
Falavam pra nós que teríamos os mesmos direitos dos que foram para a guerra,
isto é, se viesse para o Amazonas como soldado da borracha, pois os que foram
para a guerra nem chegaram a batalhar, voltaram antes de chegar lá. Quando eu
soube que a guerra já tinha terminado, eu já tava cortando seringa, as notícias
demoravam muito pra chegar naquela época. Pensei em voltar depois de anos de
trabalho, mas como fiquei doente não consegui fazer borracha para o tanto
determinado como eu desejava para poder voltar a minha terra. A partir daí,
organizei minha vida casei, construí uma família de 9 filhos e mais 4 adotivos
e depois de quase 40 anos sem notícias de minha família, com a ajuda de minha
filha mais nova, que comovida com minha história de vida, me prometeu ajudar-me
a encontrar minha família.
Eu sempre gostei de ouvir
um programa na rádio da cidade de Quito – Equador e certo dia, estávamos
ouvindo o programa quando falaram o endereço da Igreja Católica de minha cidade
natal – Angicos, minha filha rapidamente anotou o endereço e teve a ideia de
mandar uma carta contando minha história e pedindo ao padre que fizesse a
leitura na missa pedindo que se um dos presentes conhecessem minha família,
avisassem a eles que me escrevessem, minha irmã estava lá e para minha
felicidade não demorei muito a receber uma resposta, uma carta enviada por ele
contando da felicidade que tinha sido, de como passou mal com o susto e alegria
e me falando das notícias boas e ruins, fui quando descobri que não tinha mais
pai e mãe já tinham falecido. Mesmo assim, minha vontade de voltar a minha
terra aumentava a cada vez que recebia uma carta de minha irmã pedindo que eu
fosse visita-la, pois ela sendo mais velha que eu não podia vim me visitar.
Nunca saiu do meu coração essa vontade, mas minha esposa vivia doente há muitos
anos, desenganada dos médicos e eu não conseguia economizar o necessário para
realizar esse sonho. Em janeiro de 2008, fiquei viúvo e com o falecimento de
minha esposa, com a qual vive casado durante 60 anos, veio mais forte ainda a
vontade de voltar a minha terra, e minha única filha junto com seu esposo e uma
ex-nora que tenho como filha, me incentivaram e me ajudaram a realizar esse
sonho.
Zè Rodrigues
O depoimento desta semana é
do Cearense José Rodrigues, com 91 anos de
deidade. Zè Rogrigues como é conhecido, deixou a família e
uma mulher para atender a convocação do governo Brasileiro na
segunda guerra mundial. Entre ir para o combate direto com
o exercito Nazista e seus aliados, ele optou pela guerra na
selva amazónica com as cobras onças e a truculência dos
"coronéis de barranco". Zé Rodrigues ficou muito conhecido
no seringal Alagoas, onde trabalhou maior parte do tempo, como um negro valente
destemido.
O que mais o caracterizava era
sua habilidade e frieza na hora de enfrentar um uma briga. Contam os antigos
que ele deixou sua fama na região como um dos arigós mais valentes,
tendo inclusive participado do movimento de seringueiros contra
carestia da mercadoria e o baixo preço da borracha, movimento esse,
que se convencionou chamar de REVOLTA DE ALAGOAS, reprimida com força
e crueldade pelo Exército.
Conheci Zé Rodrigues em
1985 quando participava de uma reunião no
Bairro Ipepaconha para Organizar a associação
de moradores da comunidade. mesmo Já quase cego, estava
sempre rindo e contando piada. Hoje vive prostrado dentro de uma rede,
contudo não perde o humor quando aparece alguém para conversar, está
sempre com um radinho de pilha no ouvido para saber o que está se
passando no Brasil.
Seu depoimento
“Eu vim para o Acre, porque
eu era alistado no exército, aí quando a guerra começou, começaram a chamar
gente, na época eu tinha casado a pouco tempo em 1942, naquele momento eu não
vim, quando foi em 1943, me chamaram de novo, eu não queria vim aí meu irmão
disse: vá essa já é a 2ª vez que você é chamado, daí eu decidi vim. Só que eu
não queria que minha mulher soubesse daí eu tive que sair fugido dela porque
não tive coragem de me despedir”.
Na época veio eu e mais
dois irmãos, isso era em Fortaleza, só que nós morávamos no Sertão, na serra,
quando nós chegamos para pegar a farda o comandante disse: vocês têm duas
escolhas, ou vão para a linha de frente da guerra ou então como soldado da
borracha. Nós saímos em três de Março de 1945 no navio
chamado Taibé, um navio da Alemanha, quando nós íamos saindo o comandante
do navio disse: - “se peguem com Deus porque eu já voltei 2 vezes do meio do
Oceano devido os submarinos e os aviões de guerra, agora eu não volto mais”.
Quando foi umas horas da
noite o navio ia puxando 25 milhas, daí eu dormi, quando eu me acordei foi
pelos gritos, que eu olhei tava pretim de Padre e irmã na proa
do navio rezando pedindo a Deus proteção, tinham dado 3 tiros de canhão no
nosso navio, a sorte foi que Deus ajudou e não pegou. Quando nós chegamos em
Belém, quem vinha para o Acre tinha que jurar a Bandeira, e eu fiz isso
bem pertinho de Getúlio Vargas e eu assinei um contrato de
3 anos.
Daí nós pegamos o navio
chamado Índio Brasil e se jogamos para o Acre, eu disse logo aos meus irmãos:
já que nós estamos aqui eu vou bater onde o sabão não lava. Quando eu cheguei
aqui a coisa era preta, começou pelas dificuldades nas estradas, Agente não
sabia cortar seringa, os bichos que tinham na mata, as doenças, acordar
de 1 a 2 horas da manhã, e ainda mais, se agente desse um tiro a
noite esturrava onça para todo canto. Uma vez eu me topei de frente com uma
onça, e a bicha me encarou ai eu apontei a espingarda e apertei o dedo, só que
eu furei a espoleta e a bicha não disparava, eu joguei ela de lado peguei a
faca e disse: - “o risco que corre o pau corre o machado”, ela pulou
em riba de mim, eu pulei de lado e finquei a faca, ela correu de mata
a fora que eu só escutava a quebradeira na mata.
Era muito difícil a nossa
vida aqui, Agente trabalhava muito e nunca dava pra pagar ao conta. pra eu me
aposentar como soldado da borracha deu o maior trabalho, isso porque minha casa
pegou fogo e meus documentos queimaram tudo, inclusive minha carteira de
soldado da borracha que servia como uma identidade. Mas graças a Deus eu
consegui, hoje estou com 91 anos, cego devido a mordida de uma cobra papagaia
que me mordeu no o olho direito. Construí outra família a mulher Já faleceu e
nunca mais voltei ao meu Ceará.
Dona Maria Maura
O depoimento desta semana, da
série: MAIS RESPEITO A ESSES COMBATENTES DE SELVA, é
da Cearense, Natural da cidade de Caiçara, Maura Rodrigues. Ela
casou se ao 15 anos de idade para fazer companhia ao seu companheiro Regino Braga
na grande aventura de ganhar dinheiro fácil na extração da borracha
na amazônia. Dona Maura é daquelas pessoas que não gosta de falar
muito sobre o sofrimento que passou, seu peito enche logo de emoção. Com os
olhos um pouco cinzento e lagrimejando ela falou para RAÍZES
E TRONQUEIRAS.
"Eu vim para o Acre aos 15 anos de idade em busca de fortuna, pois no
Ceará diziam que a borracha dava muito dinheiro. Embarquei com meu marido no
navio Afonso Pena em 1943 e viemos até Manaus, de lá pegamos outro navio
com o nome de Sorocaba, nessa viagem eu e tíve um filho, no
sofrimento da viagem, sem assistência de saúde ele adoeceu não teve
jeito veio falecer".
"Fiquei muito triste
porque era meu primeiro filho. Ele foi sepultado em Santarém, lá eu recebi um
documento de falecimento dado pelo comandante do navio r seguimos a viagem. Com
este documento foi que eu consegui minha aposentadoria de soldado da borracha,
eu era aposentada pelo funrural e queria passar para o soldado da
borracha, fiz muitas tentativas, mas sem levar o documento de falecimento de
meu filho, até que pela primeira vez que levei me aposentei"
"Na viagem do Ceará ao
Acre nos navios agente não podia fumar, ascender lamparina e nem
conversar eram todosquietinhos deitados em suas redes, e ainda mais, no
navio tinhas as divisões de classe das pessoas, eles, comandantes do Navio
diziam que os aviões e os submarinos de Guerra podiam a qualquer momento atacar
o navio, pois estava acontecendo a guerra".
"Quando eu cheguei aqui
em Tarauacá tudo era coberto por matas tinha
bem pouquinha casa, aí logo meu marido arranjou um patrão
e nós tivemos que ir para o seringal Xapuri nas
cabeceiras do Rio Tarauacá. O patrão era o Manoel do Vale. No começo
tudo foi muito difícil, ele cortava seringa e eu ajudava colher o leite, sempre
com muito medo das onças pintadas, elas rastejavam a gente na estrada, o
pessoal falavam que elas chegava até subir nos "pés de burro" pra
pegar a gente. Eu tinha muito medo".
"Foi uma luta muito
pesada, hoje estou com 83 anos de idade, meu marido já faleceu e nunca mais tivemos
oportunidade de voltar "nossa terra natal". mandei várias cartas pra
ver se conseguia falar com alguém da minha família e nunca recebi resposta,
nunca mais Encontrei ninguém. Hoje ainda estou por aqui com meus
filhos,sobrevivendo com minha aposentaria de Soldado da Borracha"
Joaquim Marroque Sancho
Eles já não são muitos na Amazônia, no Acre e em Tarauacá. O
sofrimento e o tempo levou a maioria desses Homens e mulheres que que
tiveram que comer o "pão que o diabo amassou". Viveram a
dor, a opressão, a enganação, a saudade e a solidão. Eles são os Soldados da
borracha.
Raízes e Tronqueiras publicará toda semana um depoimento deles que
são nossos ancestrais e nossas Raízes. vozes cansadas, a vista não alcança mais
a clareira que abriram. os braços já não tem mais força, alguns, as pernas
também foram embora. Eles merecem mais respeito.
Soldados da Borracha foi o nome dados aos brasileiros que entre 1943/1945 foram
alistados, transportados para Amazônia pelo SEMTA, com
o objetivo de extrair borracha para os Estados Unidos da
América(Acordos de Washington) na II Guerra Mundial.
Estes foram os peões do Segundo Ciclo da Borracha e da expansão demográfica
da Amazônia. O contingente de Soldados da Borracha é calculado
em mais de 50 mil, sendo na grande maioria nordestinos, e por
vez cearenses.
Os Soldados da Borracha depois de alistados, examinados e dados como
habilitados nos alojamentos em Fortaleza(Prado e Alagadiço), recebiam
um kit básico de trabalho na mata, no qual constitui-se de: uma calça
de mescla azul, camisa branca de morim, um chapéu de palha, um par
de alpercatas, uma mochila, um prato fundo, um talher(colher-garfo), uma
caneca de folha de flandes, uma rede, e um maço de cigarros Colomy. O
ponto de partido para muito deles foi a Ponte Metálica(porto de Fortaleza na
época).
As falsas promessas
Foi prometido aos Soldados da Borracha que após a guerra, estes
retornariam a terra de origem. Na prática mais da maioria deles morreram de
doenças como malária ou pelas atrocidades da selva. Os sobreviventes ficaram na
Amazônia por não ter dinheiro para pagarem a viagem de volta, ou porque
estavam endividados com os seringalistas(donos do seringais).
O contrário do Pracinhas, estes só foram reconhecidos como combatentes da
II Guerra Mundial, em 1988. Com este reconhecimento estes tiveram direito a uma
pensão para sobreviver com muita dificuldade.
"Eu vim para o Acre só imaginando na borracha, deixei minha família meus
parentes, deixei grandes negócios no Ceará, vim pra cá pelas vantagens e
propaganda que ofereciam pra nóis sobre a borracha, naquela época
veio Eu e um irmão de criação lá no Ceará nóis morávamos no município
de Ubirajara. Naquela época apareceu um cara fazendo propaganda da
borracha do Acre e pegando gente pra trazer pra cá aí Eu me animei e disse ao
meu irmão de criação: Raimundo vamos para o Acre? Ele não veio, somente eu,
embarquei no navio Campos Sales, a viagem foi longa, quando eu cheguei
aqui, eu não vou mentir, eu me arrependi".
"Era tudo totalmente diferente do que tinha mostrado pra nóis no
cinema. Lá no Ceará eles botaram uma fita de cinema pra nós assistir,
nesse filme mostrava agente cortando seringa de bicicleta nas estradas todas
bem roçadinhas, igual uma rua aí eu me animei, quando eu comece a cortar
seringa a coisa se tornou mais difícil ainda, porque além de eu enfrentar as
dificuldades das estradas de seringa ainda tinha que me proteger das onças
pintadas e de outros animais da floresta e também das doenças que matava muita
gente naquela época como por exemplo, febre amarela, paludismo, malária e
outras".
"Eu me desataquei logo como um bom seringueiro, naquela época o
bom seringueiro era aquele que fazia de 1000 kg de borracha pra cima,
e ainda ganhava um prêmio do patrão que era chamado prêmio do tuchaua. Como eu era um
bom seringueiro os donos de seringal me convidaram para eu
ser gerente de propriedade, mas como eu já conhecia a fama dos patrões que
enganava os seringueiros na hora da pesagem das borrachas, no
acerto de contas, não aceitei a proposta mas aí ele insistiu e eu topei,
comecei a ser patrão em seringais do Rio Murú".
"Lá presenciei muitas barbaridades de muitos patrões, amarrando seringueiros em
palheiras de uricuri e baixando apeia, naqueles que vendiam borracha
pra fora, para os chamados regatões, e muitas vezes
aquele seringueiro que tirava saldo o patrão mandava matar, aqui
no seringal Universo no Rio Tarauacá eu conheço as
palheiras de jaci, chega são finas na parte onde amarravam
os seringueiros para açoitar e matar, naquela época não existia
justiça, a justiça eram 44 papa amarelo".
"Os patrões muitas vezes
levavam os seringueiros para um lugar chamado alto do bode, uma terra
muita alta, lá eles matavam e depois jogavam lá de cima e as pessoas caíam já
mortas dentro de um grutião, depois de alguns tempos apareceu um delegado
chamado Carlos Nero, esse chegou com a lei seca mandou prender muitos patrões
que cometiam barbaridades com os seringueiros,
muitos patões tiveram que fugir embarricados, ou seja, dentro
dos camburões baixando os rios rumo a Manaus e Belém com medo de
serem preso".
"Hoje estou nessa
situação que você ta vendo"