quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

REBELO: COPA VAI GOLEAR A “FRACASSOMANIA



A PASSAGEM DE UM FURACÃO DESENVOLVIMENTISTA


O país-sede não vence, necessariamente, a Copa do Mundo dentro do campo, mas festeja a passagem de um furacão desenvolvimentista que deixa em seu rastro benfazejo um legado incomensurável. 

O megaevento esportivo mais cobiçado e acompanhado do planeta, disputado com unhas e dentes pelos países mais desenvolvidos, é um motor de progresso e farol de projeção geopolítica. 

Como desejo, esperamos que ao soar o apito final no Maracanã, em 13 de julho de 2014, o Brasil seja campeão. Como realidade concreta e irreversível, ficará um resultado extraordinário para benefício do povo brasileiro.

Os números são auspiciosos. O último balanço da Copa, que tem como referência o mês de setembro, mostra que os investimentos públicos e privados já alcançam R$ 25,6 bilhões dos quais:

- R$ 8 bilhões em obras de mobilidade urbana

- R$ 8 bilhões em construção e reformas de estádios

- R$ 6,3 bilhões em aeroportos

- R$ 1,9 bilhão  em segurança

- R$ 600 milhões em portos

- R$ 400 milhões em telecomunicações

- R$ 200 milhões em infraestrutura turística

- R$ 200 milhões em instalações complementares

As consultorias Ernst&Young e Fundação Getúlio Vargas calculam que, entre 2010 e 2014, serão movimentados R$ 142,39 bilhões adicionais na economia nacional. Para cada R$ 1 aplicado pelo setor público, R$ 3,4 serão investidos pela iniciativa privada a partir das obras estruturantes.

Deverão ser gerados 3,6 milhões de empregos – a população do Uruguai. A arrecadação de impostos atingirá R$ 11 bilhões e a população vai auferir renda adicional de R$ 63,48 bilhões apenas nesse quadriênio. 

Segundo prospecção da consultoria Value Partners, os investimentos vão agregar R$ 183,2 bilhões ao Produto Interno Bruto até 2019. Os efeitos na economia serão ainda mais fecundos se o Brasil ganhar a Copa. Estudo do pesquisador britânico John S. Irons, do “Center for American Progress”, indica que o torneio da Fifa “faz rolar a bola da economia” do país-anfitrião que levanta a taça. O PIB da Inglaterra, se cresceu 2% em 1966, aumentou para mais de 3% nos dois anos seguintes. Fenômeno idêntico ocorreu com a Argentina, sede e vencedora da Copa de 1978.

Afora os aspectos econômicos, a Copa do Mundo é, e antes de tudo, uma contagiante festa esportiva que, ao realizar-se no País do Futebol, encontra o seu campo perfeito. O retumbante sucesso popular da Copa das Confederações foi uma prévia da jornada de 2014. 

As manifestações contrárias, algumas legítimas, de pessoas que se sentem prejudicadas pelas obras associadas ao torneio da Fifa, mas, de fato, previstas no Programa de Aceleração do Crescimento, serão, naturalmente, assimiladas. Nada é feito contra os interesses do povo. Três quartos dos investimentos nos projetos se destinam a infraestrutura e serviços. 

No que concerne ao Governo Federal, a palavra de ordem é minimizar o dano. O interesse do Ministério do Esporte é que eventuais transtornos sejam resolvidos com a dignidade, o respeito e as compensações que o povo brasileiro merece.

Já os que apontam desvio de recursos das áreas sociais deveriam cotejar os investimentos. Na Copa, como se viu, os investimentos chegam aos R$ 25,6 bilhões. O Brasil conquistou o direito de sediar a Copa Fifa em 2007. Pois, de lá para cá, investimentos da União em educação quase triplicaram e os destinados à saúde mais que dobraram. A Educação recebeu R$ 311,6 bilhões. A Saúde, R$ 447 bilhões.

Os argumentos contra os estádios de “padrão Fifa” são autodepreciativos – e se repetem desde a construção do Maracanã no final da década de 1940. Merecemos estádios à altura do nosso futebol, para conforto e segurança do torcedor. 

Até agora, aproximadamente R$ 4 bilhões foram emprestados – e não doados – pelo BNDES a empresas e governos estaduais. A demora de dois anos do repasse para o Itaquerão, a Arena Corinthians em São Paulo, deveu-se a discussões acerca das garantias bancárias exigidas ao Corinthians.

Compreendendo sua importância social e lúdica, a maioria do povo brasileiro é a favor da Copa. Nada menos que dois terços, segundo a última pesquisa do Datafolha, continuam apoiando a realização do evento e, pelo andar da carruagem, vão volver ao índice próximo de 80% vigente antes da onda revisora das manifestações de junho. Para os entrevistados, será uma “Copa alegre”.

Outra herança positiva da Copa poderá ser a redução do pessimismo, cultural de uns, caviloso de outros, que duvidam da capacidade do Brasil de realizar um empreendimento de tanta magnitude e abrem os olhos para os problemas e os fecham para as soluções. 

Toda a soberba e soberana Nação que construímos em cinco séculos é reduzida a deficiências e deformidades, que certamente temos, mas que estão longe de configurar a face de nossa formação social. Realizamos empreitadas mais difíceis e importantes que uma Copa, e já fizemos uma em 1950, porém a de 2014 parece objeto preferencial de um derrotismo seletivo de várias inspirações – a começar do facciosismo político-partidário que atira na Fifa para atingir o governo.

As críticas aperfeiçoam qualquer projeto, mas a diatribe só atende à morbidez das cassandras. Não é de hoje que viceja no Brasil um pessimismo voluptuoso. As grandes rupturas de nossa História a guerra aos holandeses, a Independência, a República, a Abolição e a Revolução de 30 – nunca foram perdoadas. Assim como ainda são increpados o Maracanã e Brasília – alvos da “fracassomania”, recidiva como um cupim autofágico, insistentemente apontada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em seu governo.

Com todas as nossas deficiências e deformidades históricas, nenhuma delas introduzida ou agravada pela Copa, seremos capazes de usufruir os resultados benfazejos de um evento que gera desenvolvimento em todos os campos. 

Como visto, a festa do futebol inova ou acelera obras de infraestrutura para usufruto perene do povo, traz turistas, melhorias da segurança, empregos, aumento capilarizado de negócios e consequente incremento do PIB. Também aperfeiçoa mecanismos de transparência e escrutínio dos gastos públicos. Ao final, ficará demonstrado que o Brasil sabe realizar uma Copa do Mundo tanto quanto ganhá-la.


Aldo Rebelo é ministro do Esporte


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