O pessimismo que domina os mercados de capitais nestes dias, derretendo o valor das ações e semeando instabilidade - motivado pelos dados desanimadores da economia estadunidense e o agravamento da crise da dívida na Europa e também nos EUA -, indica que a economia mundial está a caminho de uma nova recessão. O Brasil, como se pode notar pelo comportamento da Bovespa, que acumula perdas de 15,1% no ano até esta quarta (10), não está imune, ao contrário do que imaginam alguns analistas.
A situação é “delicada”, conforme admitiu a presidente Dilma durante reunião do Conselho Político. Resta saber o que se pretende fazer para prevenir e neutralizar os prováveis impactos das turbulências que emanam da maior economia capitalista do planeta, cujos desequilíbrios são a grande fonte da crise. As coisas não estão claras neste sentido, as pressões são contraditórias e as autoridades não parecem estar falando a mesma língua.
A presidente incitou a população a continuar consumindo, repetindo o apelo de Lula em 2008 e dando a entender que a equação do problema passa pelo fortalecimento do mercado interno. Dilma reitera que não quer sacrificar o crescimento da economia e da oferta de emprego. Já a oposição neoliberal, com o respaldo da mídia capitalista, levanta a bandeira do ajuste fiscal, clamando por mais cortes nas despesas públicas.
Membros proeminentes da equipe econômica, apegados a uma orientação conservadora de viés neoliberal, criticam os aumentos salariais obtidos com muita luta pelos trabalhadores e bradam contra projetos que elevam as despesas públicas, quando estes contemplam os interesses dos assalariados. Ao mesmo tempo, apoiam projetos polêmicos de renúncia fiscal em benefício de alguns ramos da indústria, inclusive as multinacionais do automóvel.
Falar mal dos sindicatos, responsabilizando os salários pela instabilidade monetária, e persistir na linha do arrocho fiscal são coisas que nada têm a ver com a necessidade de fortalecimento do mercado interno ressaltada por Dilma. As iniciativas até agora anunciadas pela equipe econômica, como o Plano Brasil Maior (PBM), a elevação do teto do Simples e as medidas implementadas para conter a valorização do real, são tímidas e insuficientes. Além disto, o PBM contém uma ameaça ao financiamento da Previdência Social que os trabalhadores consideram simplesmente inaceitável.
Prevalece a impressão de que o governo evita colocar o dedo na ferida ou, em outras palavras, carece de ousadia para mexer no dogmático tripé da política macroeconômica: os juros altos, o câmbio flutuante e o superávit primário, que conspiram contra o crescimento, obstruindo a expansão dos investimentos internos, e provocam a chamada desindustrialização.
É difícil, senão impossível, prever todos os desdobramentos da crise, mas o cenário que se projeta no horizonte dos próximos anos é pintado com as cores da instabilidade, acirramento da competição e do protecionismo, consumo deprimido, baixo crescimento e provavelmente recessão nos Estados Unidos e na Europa. A promessa do Federal Reserve de manter a taxa básica de juros negativa (entre 0 a 0,25% a.a) até 2013 é sintomática.
O momento exige ousadia, conforme observou o líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Osmar Júnior. Ousadia para reduzir significativamente a taxa de juros; mudar a política cambial, acabando com o câmbio flutuante e administrando as cotações, em vez de criticar a justa política adotada pela China neste sentido; controlar o fluxo de capitais, freando a especulação; taxar fortemente a remessa de lucros das transnacionais, principal causa do déficit em conta corrente, e reduzir o superávit primário, utilizando a economia hoje destinada ao pagamento de juros para a ampliação dos investimentos públicos.
Se o governo caminhar nesta direção certamente enfrentará a oposição da oligarquia financeira e das viúvas do neoliberalismo. Mas contará com o apoio do povo, dos movimentos sociais e dos partidos e organizações progressistas. Pesquisa recente feita pelo Ibope mostra que 63% dos brasileiros se opõem à política monetária conduzida pelo Banco Central, que há anos mantém o Brasil na vergonhosa e injustificável posição de campeão mundial dos juros altos. Um claro sinal de que a maioria da sociedade anseia por mudanças na orientação macroeconômica.
Editorial do portal Vermelho
A situação é “delicada”, conforme admitiu a presidente Dilma durante reunião do Conselho Político. Resta saber o que se pretende fazer para prevenir e neutralizar os prováveis impactos das turbulências que emanam da maior economia capitalista do planeta, cujos desequilíbrios são a grande fonte da crise. As coisas não estão claras neste sentido, as pressões são contraditórias e as autoridades não parecem estar falando a mesma língua.
A presidente incitou a população a continuar consumindo, repetindo o apelo de Lula em 2008 e dando a entender que a equação do problema passa pelo fortalecimento do mercado interno. Dilma reitera que não quer sacrificar o crescimento da economia e da oferta de emprego. Já a oposição neoliberal, com o respaldo da mídia capitalista, levanta a bandeira do ajuste fiscal, clamando por mais cortes nas despesas públicas.
Membros proeminentes da equipe econômica, apegados a uma orientação conservadora de viés neoliberal, criticam os aumentos salariais obtidos com muita luta pelos trabalhadores e bradam contra projetos que elevam as despesas públicas, quando estes contemplam os interesses dos assalariados. Ao mesmo tempo, apoiam projetos polêmicos de renúncia fiscal em benefício de alguns ramos da indústria, inclusive as multinacionais do automóvel.
Falar mal dos sindicatos, responsabilizando os salários pela instabilidade monetária, e persistir na linha do arrocho fiscal são coisas que nada têm a ver com a necessidade de fortalecimento do mercado interno ressaltada por Dilma. As iniciativas até agora anunciadas pela equipe econômica, como o Plano Brasil Maior (PBM), a elevação do teto do Simples e as medidas implementadas para conter a valorização do real, são tímidas e insuficientes. Além disto, o PBM contém uma ameaça ao financiamento da Previdência Social que os trabalhadores consideram simplesmente inaceitável.
Prevalece a impressão de que o governo evita colocar o dedo na ferida ou, em outras palavras, carece de ousadia para mexer no dogmático tripé da política macroeconômica: os juros altos, o câmbio flutuante e o superávit primário, que conspiram contra o crescimento, obstruindo a expansão dos investimentos internos, e provocam a chamada desindustrialização.
É difícil, senão impossível, prever todos os desdobramentos da crise, mas o cenário que se projeta no horizonte dos próximos anos é pintado com as cores da instabilidade, acirramento da competição e do protecionismo, consumo deprimido, baixo crescimento e provavelmente recessão nos Estados Unidos e na Europa. A promessa do Federal Reserve de manter a taxa básica de juros negativa (entre 0 a 0,25% a.a) até 2013 é sintomática.
O momento exige ousadia, conforme observou o líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Osmar Júnior. Ousadia para reduzir significativamente a taxa de juros; mudar a política cambial, acabando com o câmbio flutuante e administrando as cotações, em vez de criticar a justa política adotada pela China neste sentido; controlar o fluxo de capitais, freando a especulação; taxar fortemente a remessa de lucros das transnacionais, principal causa do déficit em conta corrente, e reduzir o superávit primário, utilizando a economia hoje destinada ao pagamento de juros para a ampliação dos investimentos públicos.
Se o governo caminhar nesta direção certamente enfrentará a oposição da oligarquia financeira e das viúvas do neoliberalismo. Mas contará com o apoio do povo, dos movimentos sociais e dos partidos e organizações progressistas. Pesquisa recente feita pelo Ibope mostra que 63% dos brasileiros se opõem à política monetária conduzida pelo Banco Central, que há anos mantém o Brasil na vergonhosa e injustificável posição de campeão mundial dos juros altos. Um claro sinal de que a maioria da sociedade anseia por mudanças na orientação macroeconômica.
Editorial do portal Vermelho
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