sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

candidatura de Aécio fica na praia


A decisão do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), de desistir da disputa presidencial de 2010 surpreendeu o mundo político mais pela antecedência do anúncio do que propriamente pela decisão em si.

por Cláudio Gonzalez

Esperava-se que Aécio fosse anunciar sua desistência em janeiro. Mas ele antecipou o anúncio em pelo menos quinze dias. As verdadeiras razões desta antecipação é que ainda não foram totalmente esclarecidas. Seria um blefe? Uma estratégia para pressionar Serra e a cúpula tucana? Só Aécio e seus aliados mais próximos é que podem dizer. Mas que ele iria anunciar a desistência já era fato conhecido nos bastidores de Brasília há muitos dias.

Aliás, Aécio já havia comunicado sua decisão informalmente à cúpula tucana na semana passada. Vários órgãos de imprensa chegaram a noticiar isso. O anúncio de hoje foi apenas uma formalização, ocorrida após alguns dias de conversas de bastidores onde acertou-se o tom e os termos da renúncia à pré-candidatura. E pela carta que Aécio tornou pública, é de se supor que as conversas de bastidores não foram nada cordiais.

A carta de Aécio não cita nem uma vez o nome de seu adversário na disputa, José Serra. À primeira vista, isso pode não parecer tão importante, mas é altamente revelador da indisposição do governador mineiro com seu colega paulista. Além disso, boa parte da carta é dedicada a mostrar que Aécio seria um candidato melhor do que Serra para o projeto tucano. O texto revela ainda um rancor contido de Aécio em relação à própria cúpula do PSDB, que negou-se até o último momento a atender os apelos dele em prol da realização de prévias para escolher o candidato do partido. As críticas que Aécio faz ao governo Lula e à estratégia governista de transformar a eleição de 2010 numa disputa plebiscitária estão sendo tratadas como ponto central do documento pela mídia, mas uma leitura atenta revela que trata-se mais de uma demarcação de terreno com vistas à disputa estadual mineira do que propriamente em relação à contenda nacional.

A julgar pelo tom do documento, não será nada fácil para a cúpula tucana convencer Aécio a ser vice de Serra numa chapa puro-sangue, como deseja boa parte do tucanato, principalmente agora que seu principal aliado, o DEM, caiu em desgraça com o escândalo do Distrito Federal e já não tem mais cacife para oferecer um candidato a vice.

Analistas políticos ouvidos pela imprensa apontam três fatores que foram determinantes para a desistência de Aécio: o primeiro deles é que a demora na definição da candidatura tucana estava prejudicando o desenvolvimento de uma estratégia mais ousada de campanha da oposição, enquanto que a candidatura governista está a pleno vapor; o segundo motivo é que as pesquisas não sorriram para Aécio em momento nenhum, pelo contrário: as últimas sondagens mostravam sua candidatura estacionada, enquanto os adversários avançavam. Nesta situação, seria quase impossível se impor internamente no PSDB em detrimento do nome de José Serra. Por fim, pesou na balança o fato da disputa de 2010 ser muito arriscada para a oposição. O governo Lula tem amplo apoio popular, uma comparação da atual gestão com os anos de governo de FHC é desastrosa para os tucanos. Sendo assim, entre lançar-se numa missão quase suicida politicamente ou encarar uma tranquila eleição para o Senado e, de quebra, eleger seu sucessor no governo mineiro, Aécio parece ter tomado a decisão menos arriscada. Ele sabe que poderá retomar o sonho presidencial no futuro, contra a própria Dilma em 2014 ou até mesmo em 2018.

Por enquanto, os governistas estão recebendo bem a notícia da desistência de Aécio. Apesar de previsível, ela ajuda a "encurralar" a oposição, como disse o senador Mercadante (PT-SP). José Serra, neste momento, é o candidato da direita por W.O. Na avaliação do Planalto, sua proximidade com Fernando Henrique torna a candidatura Serra mais fácil de ser combatida do que seria com Aécio Neves.

Mas ainda resta muito tempo até o fatídico outubro de 2010. Até lá, tudo pode acontecer, até mesmo a desistência de Serra, que pode resolver não disputar uma eleição tão arriscada. Isso sim seria surpreendente, ainda que tenha muita gente séria apostando nisso.

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