terça-feira, 9 de junho de 2009

A grande mídia é coerente

Por Eron Bezerra*

Comecemos pela definição do conceito. Coerência não é, como muitos imaginam, um comportamento “acima do bem e do mal”, a-histórico e sem conotação classista. Coerência nada mais do que um comportamento regular, recorrente, em torno de determinados valores, de determinada ideologia.

Assim, é coerente o assaltante de banco que persiste na atividade criminosa apesar do elevado risco, inclusive de vida, que tal atividade lhe impõe. É coerente o religioso sincero – e não o vigarista que tira proveito de incautos – que muitas vezes prega no deserto na tentativa de aliciar adeptos à sua fé. De igual forma é coerente o revolucionário que dedica toda a sua vida lutando por uma causa e não por uma coisa, conforme nos faz lembrar o grande poeta Bertoldo Brecht.

E é profundamente coerente a defesa acrítica que a grande mídia faz da elite econômica e de seus representantes políticos, assim como os ataques sistemáticos que ela move contra o governo Lula e em particular contra as ações de caráter popular, de esquerda. Afinal, se assim não agisse ela sepultaria a teoria marxista que demonstrou que o estado – e seus aparelhos, dentre eles os meios de comunicação - nada mais é do que um instrumento de dominação da classe dominante. Qualquer que seja a classe dominante.

No Brasil e em boa parte do mundo o estado é burguês e a classe dominante é a burguesia. Logo, os meios de comunicação, como instrumento de reprodução desse ideário, defendem essas idéias e seus representantes. Nenhuma surpresa.

Se esse preceito teórico for razoavelmente compreendido não haverá espanto diante do comportamento “errático” de nossa grande mídia em questões iguais. Citemos apenas dois exemplos: a prorrogação das eleições presidências e a CPI da Petrobras.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso alterou a legislação – com o jogo em pleno andamento – para permitir a sua própria reeleição. Afora uma ou outra entrevista discordante, muitas das quais meramente protocolar, o silêncio foi total. Mas a hipótese do chamado terceiro mandato para Lula, cujo conteúdo é idêntico, é tratado como golpe por essa mesma mídia.

Assim como o presidente Lula também sou contra o 3º mandato, mas não posso deixar de realçar os pesos distintos empregados na cobertura. Coerente, repito.

O caso da CPI é ainda mais emblemático. Em pleno governo FHC uma plataforma da Petrobras foi ao fundo. Fazia parte, quem sabe, da estratégia do governo de então de desmoralizar a empresa para privatizá-lo. Lutamos, toda a esquerda e os patriotas desse país, para investigar esse crime e defender o patrimônio nacional através de uma CPI. O governo de então não só abafou a mesma como foi solenemente poupado pelos meios de comunicação.

Agora, quando a Petrobras transformou o país auto-suficiente em petróleo, descobriu o pré-sal e se agiganta como uma das maiores empresas do mundo, a direita não apenas conseguiu emplacar a sua CPI como recebe alento precisamente daqueles que não viram motivos para investigar um crime hediondo. Mais uma vez a mídia é coerente. Defende os seus.De nossa parte é preciso ter um pouco mais de noção da luta de classes e não permitir que a direita passeie com tanta desenvoltura quando está politicamente desmoralizada no Brasil e no mundo.

*Eron Bezerra, Engenheiro Agrônomo, Professor da UFAM, Deputado Estadual Licenciado, Secretário de Agricultura do Estado do Amazonas, Membro do CC do PCdoB.

Um comentário:

  1. Excelente leitura da Petrobrás competitiva da era Lula comparada com os sucessivos fracassos do famigerado desgoverno FHC e sua mídia oportunista de plantão.

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