Eles já não são muitos na amazônia, no Acre e em Tarauacá. O sofrimento e o tempo levou a maioria desses Homens e mulheres que que tiveram que comer o "pão que o diabo amassou". Viveram a dor, a opressão, a enganação, a saudade e a solidão. Eles são os Soldados da borracha.
Raízes e Tronqueiras publicará toda semana um depoimento deles que são nossos ancestrais e nossas Raízes. vozes cansadas, a vista não alcança mais a clareira que abriram. os braços já não tem mais força, alguns, as pernas também foram embora. Eles merecem mais respeito.
Soldados da Borracha foi o nome dados aos brasileiros que entre 1943/1945 foram alistados, transportados para a Amazônia pelo SEMTA, com o objetivo de extrair borracha para os Estados Unidos da América(Acordos de Washington) na II Guerra Mundial.
Estes foram os peões do Segundo Ciclo da Borracha e da expansão demográfica da Amazônia. O contigente de Soldados da Borracha é calculado em mais de 50 mil, sendo na grande maioria nordestinos, e por vez cearenses.
Os Soldados da Borracha depois de alistados, examinados e dados como habilitados nos alojamentos em Fortaleza(Prado e Alagadiço), recebiam um kit básico de trabalho na mata, no qual constitui-se de: uma calça de mescla azul, camisa branca de morim, um chapéu de palha, um par de alpercatas, uma mochila, um prato fundo, um talher(culher-garfo), uma caneca de folha de flandes, uma rede, e um maço de cigarros Colomy. O ponto de partido para muito deles foi a Ponte Metálica(porto de Fortaleza na época).
As falsas promessas
Foi prometido aos Soldados da Borracha que após a guerra, estes retornariam a terra de origem. Na prática mais da maioria deles morreram de doenças como malária ou pelas atrocidades da selva. Os sobreviventes ficaram na Amazônia por não ter dinheiro para pagarem a viagem de volta, ou porque estavam endividados com os seringalistas(donos do seringais).
O contrário do Pracinhas, estes só foram reconhecidos como combatentes da II Guerra Mundial, em 1988. Com este reconhecimento estes tiveram direito a uma pensão para sobreviver com muita dificuldade.
"Eu vim para o Acre só imaginando na borracha, deixei minha família meus parentes, deixei grandes negócios no Ceará, vim pra cá pelas vantagens e propaganda que ofereciam pra nóis sobre a borracha, naquela época veio Eu e um irmão de criação lá no Ceará nóis morávamos no município de Ubajara. Naquela época apareceu um cara fazendo propaganda da borracha do Acre e pegando gente pra trazer pra cá aí Eu me animei e disse ao meu irmão de criação: Raimundo vamos para o Acre? Ele não veio, somente eu, embarquei no navio Campos Sales, a viagem foi longa, quando eu cheguei aqui, eu não vou mentir, eu me arrependi".
"Era tudo totalmente diferente do que tinha mostrado pra nóis no cinema. Lá no Ceará eles botaram uma fita de cinema pra nóis assistir, nesse filme mostrava agente cortando seringa de bicicleta nas estradas todas bem roçadinhas, igual uma rua aí eu me animei, quando eu comece a cortar seringa a coisa se tornou mais difícil ainda, porque além de eu enfrentar as dificuldades das estradas de seringa ainda tinha que me proteger das onças pintadas e de outros animais da floresta e também das doenças que matava muita gente naquela época como por exemplo, febre amarela, paludismo, malária e outras".
"Eu me desataquei logo como um bom seringueiro, naquela época o bom seringueiro era aquele que fazia de 1000kgs de borracha pra cima, e ainda ganhava um prêmio do patrão que era chamado prêmio do tuchau. Como eu era um bom seringueiro os donos de seringal me convidaram para eu ser gerente de propriedade, mas como eu já conhecia a fama dos patrões que enganava os seringueiros na hora da pesagem das borrachas, no acerto de contas, não aceitei a proposta mas aí ele insistiu e eu topei, comecei a ser patrão em seringais do Rio Murú".
"Lá presenciei muitas barbaridades de muitos patrões, amarrando seringueiros em palheiras de uricuri e baixando a peia, naqueles que vendiam borracha pra fora, para os chamados regatões, e muitas vezes aquele seringueiro que tirava saldo o patrão mandava matar, aqui no seringal niverso no Rio Tarauacá eu conheço as palheiras de jaci, chega são finas na parte onde amarravam os seringueiros para açoitar e matar, naquela época não existia justiça, a justiça eram 44 papa amarelo".
"Os patrões muitas vezes levavam os seringueiros para um lugar chamado alto do bode, uma terra muita alta, lá eles matavam e depois jogavam lá de cima e as pessoas caíam já mortas dentro de um grutião, depois de alguns tempos apareceu um delegado chamado Carlos Nero, esse chegou com a lei seca mandou prender muitos patrões que cometiam barbaridades com os seringueiros, muitos patões tiveram que fugir embarricados, ou seja, dentro dos camburões baixando os rios rumo a Manaus e Belém com medo de serem preso".
"Hoje estou nessa situação que você ta vendo"
A história do nosso herói Joaquim Marroque Sancho é a realidade cruel e injusta aos mais de 50 mil homens que foram recrutados e enviados para a nossa selva amazônica pelo governo Vargas e que hoje são poucos mais de 600 ainda vivos pra contar a história...
ResponderExcluirA Deputada federal Pérpetua Almeida é autora do projeto de lei que assegura uma pensão especial e décimo-terceiro salário para eles ou seus familiares diretos, além de ser justa, é merecedora de respeito e reverência aos nossos heróis brasileiros.
Parabéns pela ousadia de provocar uma reflexão em tod@s nós, sobre os feitos e as inteperanças do histórico de vida dos mesmos, através do forte relato do Joaquim Marroque Sancho, um herói de verdade!