sábado, 20 de junho de 2009

MAIS RESPEITO A ESSES COMBATENTES DE SELVA!

Dona Maura mostra a certidão de óbito do seu primeiro filho que ficou enterrado em Santarém

Maura Rodrigues Braga (na foto ela e seu esposo senhor Regino)
O depoimento desta semana, da série: MAIS RESPEITO A ESSES COMBATENTES DE SELVA, é da Cearense, Natural da cidade de Caiçara, Maura Rodrigues. Ela casou se ao 15 anos de idade para fazer conpanhia ao seu companheiro Regino Braga na grande aventura de ganhar dinheiro fácil na extração da borracha na amazônia. Dona Maura é daquelas pessoas que não gosta de falar muito sobre o sofrimento que passou, seu peito enche logo de emoção. Com os olhos um pouco cinzento e lagrimejando ela falou para RAÍZES E TRONQUEIRAS.

"Eu vim para o Acre aos 15 anos de idade em busca de fortuna, pois no Ceará diziam que a borracha dava muito dinheiro. Embarquei com meu marido no navio Afonso Pena em 1943 e viemos até Manaus, de lá pegamos outro navio com o nome de Sorocaba, nessa viagem eu e tíve um filho, no sofrimento da viagem, sem assistência de saúde ele adoeceu não teve jeito veio falecer".

"Fiquei muito triste porque era meu primeiro filho. Ele foi sepultado em Santarém, lá eu recebi um documento de falecimento dado pelo comandante do navio r seguimos a viagem. Com este documento foi que eu consegui minha aposentadoria de soldado da borracha, eu era aposentada pelo furrural e queria passar para o soldado da borracha, fiz muitas tentativas, mas sem levar o documento de falecimento de meu filho, até que pela primeira vez que levei me aposentei"

"Na viagem do Ceará ao Acre nos navios agente não podia fumar, ascender lamparina e nem conversar eram todos quietinhos deitados em suas redes, e ainda mais, no navio tinhas as divisões de classe das pessoas, eles, comandantes do Navio diziam que os aviões e os submarinos de Guerra podiam a qualquer momento atacar o navio, pois estava acontecendo a guerra".

"Quando eu cheguei aqui em Tarauacá tudo era coberto por matas tinha bem pouquinha casa, aí logo meu marido arranjou um patrão e nóis tivemos que ir para o seringal Xapuri nas cabeceiras do Rio Tarauacá. O patrão era o Manoel do Vale. No começo tudo foi muito difícil, ele cortava seringa e eu ajudava colher o leite, sempre com muito medo das onças pintadas, elas rastejavam a gente na estrada, o pessoal falavam que elas chegava até subir nos "pés de burro" pra pegar a gente. Eu tinha muito medo".
"Foi uma luta muito pesada, hoje estou com 83 anos de idade, meu marido já faleceu e nunca mais tivemos oportunidade de voltar "nossa terra natal". mandei várias cartas pra ver se conseguia falar com alguém da minha família e nunca recebi resposta, nunca mais Encontrei ninguém. Hoje ainda estou por aqui com meus filhos, sobrevivendo com minha aposentaria de Soldado da Borracha"

Um comentário:

  1. Quanta bravura, coragem e fé desse jovem casal lá de Caiçara/CE. A caixa preta do segundo ciclo da borracha, da era Vargas, está aberta com a série de depoimentos aqui no blog "Raízes e Tronqueiras".

    A Dona Maura é a prova viva da intolerância e injustiça social aos nordestinos,a maioria do Ceará, provocada pelos governos brasileiro (Vargas) e americano (Roosevelt)através do Acordo de Washington.

    Por esse acordo, o Brasil recebeu um aporte de R$ 300 milhões de dólares para investir na produção de dezenas de minérios estratégicos brutos, sem valor agregado para a indústria bélica americana.

    Para aumentar a produção de borracha, Getúlio Vargas investiu pesado em atividades como recrutamento, encaminhamento e colocação de trabalhadores nos seringais da Amazônia, através da SEMTA - Serviço Especial da Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia e a Superintendência de Abastecimento do Vale Amazônico - SAVA que foram extintas após a guerra, abandonando as quase 60 mil pessoas nos seringais e colocações da grande floresta,e até hoje esquecidas em sua própria sorte.

    O meu respeito e reverência a essa guerreira santa, Dona Maura Braga e ao Seu Regino Braga, heróis de verdade do Brasil.

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