terça-feira, 14 de dezembro de 2010

De Fidel para a juventude: O império ianque entrou na etapa final



Em mensagem ao 17º Festival Mundial das Juventudes e dos Estudantes, que foi aberto nesta segunda-feira (13) na África do Sul, o líder da revolução Cubana, Fidel Castro, relembra as agressões do imperialismo estadunidense aos povos ao longo das últimas décadas, denuncia seus crimes atuais e, com aguda visão histórica, mostra que esta superpotência agressiva está em franco declínio.

Cartaz cubano para o 17º Festival
O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, esteve presente no ato de abertura do Festival, sediado este ano na cidade de Tshwane (Pretória). Zuma conclamou as novas gerações do mundo inteiro a lutarem por um mundo melhor e mais justo, com a verdadeira conquista de direitos elementares para os seres humanos.

Ao intervir na abertura do Festival, o chefe de Estado mencionou diversos males que afetam o planeta, "cuja solução deve ser encontrada o mais rápido possível". Entre os problemas globais estão a marginalização de muitos países, elemento utilizado como dominação pelos Estados Unidos, a rarefeita educação, a pobreza extrema, os raros cuidados às crianças e às mulheres, o acesso à saúde e o desemprego, segundo ele.

Assinalou que os jovens devem estar mais unidos ao redor do mundo e sugerir soluções práticas aos obstáculos pois as novas gerações merecem a oportunidade de dar um aporte ao desenvolvimento econômico e social de suas nações.

"Em meio à globalização, poucos países no mundo são donos de seus recursos", criticou Zuma, que também refletiu sobre a necessidade de fazer um uso sustentável do meio ambiente e obter a segurança agro-alimentar.

"Toda mudança constitui um desafio ao futuro e estamos prontos para que as vozes do mundo sejam ouvidas na África do Sul", ressaltou, após referir-se à contribuição que o Festival pode fornecer nesse sentido.

No ato de abertura, em que participaram mais de 20 mil pessoas, num ambiente de combatividade e emoção, com muita música e dança, falaram ao público diversas personalidades sul-africanas, como Kgalema Motlanthe, Winnie Madikizela-Mandela, Julius Malema e Jackie Selebi. Falaram também o presidente da FMJD, Tiago Vieira, e o secretário-geral, Jesus Moura, chefe da delegação cubana, que leu a mensagem de Fidel Castro.

Está presente uma delegação brasileira de cerca de 200 delegados representando a União da Juventude Socialista (UJS), as organizações juvenis do Partido Pátria Livre, PSB, PDT, PT e PMDB, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundáristas (Ubes).

Leia a seguir a íntegra da mensagem de Fidel


Companheiras e companheiros,

É para mim motivo de gratidão e uma honra atender a solicitação de transmitir-lhes uma mensagem por motivo do 17º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes que tem lugar na pátria de Nelson Mandela, símbolo vivo da luta contra o odioso sistema do apartheid.

Cuba foi sede de dois festivais mundiais: o 11º, em 1978, e o 14º, em 1997.

Pela primeira vez o Festival deixava de se realizar na Europa para ser realizado num país deste hemisfério.

A decisão foi tomada pela 9ª Assembléia da Federação Mundial das Juventudes Democráticas que teve lugar em Varna, Bulgária, em finais de 1974.

Eram tempos diferentes: o mundo se defrontava com sérios problemas, mas menos dramáticos. Os jovens mais progressistas lutavam pelos direitos de todos os seres humanos a uma vida digna; o velho sonho dos maiores pensadores de nossa espécie quando era evidente que a ciência, a tecnologia, a produtividade do trabalho e o desenvolvimento da consciência o faziam possível.

Em um breve lapso de tempo a globalização se acelerou, as comunicações alcançaram níveis insuspeitados, os meios para promover a educação, a saúde e a cultura se multiplicaram. Nossos sonhos não eram infundados. Nesse espírito se realizou o 11º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, no qual nosso povo também participou.

No Conselho Geral da Federação Mundial das Juventudes Democráticas, celebrado precisamente na heróica África do Sul em princípios de outubro de 1995, se aprovou a realização em Havana do 14º Festival, no qual participaram mais de 12 mil delegados de 132 países. Nosso país estava então há quase 37 anos travando a batalha política e ideológica contra o império e seu brutal bloqueio econômico.

Até a década de1980 não só existiam a República Popular da China, a República Popular Democrática da Coreia, o Vietnã, o Laos e o Camboja, que tinham suportado guerras genocidas e os crimes dos ianques, mas também o campo socialista da Europa e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, um enorme Estado multinacional de 22 milhões 402 mil e 200 quilômetros quadrados, com enormes recursos de terra agrícola, bosques, petróleo, gás, minerais e outros. Em face da superpotência imperialista, com mais de 800 bases militares instaladas em todo o planeta, erguia-se a superpotência socialista.

A dissolução da União Soviética, fossem quais fossem os erros em um ou outro momento da história, constituiu um duro golpe ao movimento progressista do mundo.

Os ianques se movimentaram rapidamente e estenderam as bases militares e o uso de instalações construídas pela União Soviética para cercar mais etreitamente com sua máquina de guerra a Federação Russa, que ainda continua sendo uma grande potência.

O aventureirismo militar dos Estados Unidos e seus aliados da Otan se incrementou na Europa e na Ásia. Desencadearam a guerra do Kossovo e desintegraram a Sérvia.

No âmbito de nosso hemisfério, ainda antes da desintegração da União Soviética, invadiram em 1965 a República Dominicana; bombardearam e intervieram com forças mercenárias a Nicarágua; invadiram com suas tropas regulares Granada, Panamá e Haiti; promoveram sangrentos golpes militares no Chile, na Argentina e no Uruguai e deram apoio à brutal repressão de Stroessner no Paraguai.

Criaram a Escola das Américas, onde não só treinavam milhares de oficiais latino-americanos em conspirações e golpes de Estado, como também familiarizaram muitos com doutrinas de ódio e práticas sofisticadas de torturas, enquanto se apresentavam diante do mundo como paladinos dos “direitos humanos e da democracia”.

Na primeira década deste século, a superpotência imperialista parece transbordar de seu próprio leito.

Os sangrentos acontecimentos de 11 de setembro de 2001, em que foram destruídas as Torres Gêmeas de Nova York – um episódio dramático no qual perderam a vida cerca de 3 mil pessoas – e o ataque posterior ao Pentágono, veio como anel ao dedo para o inescrupuloso aventureiro George W. Bush para instrumentalizar a chamada guerra contra o terror, que constitui, simplesmente, uma perigosa escalada na brutal política que os Estados Unidos vinham aplicando em nosso planeta.

Está mais do que demonstrada a vergonhosa cumplicidade dos países da Otan com tão condenável guerra. Essa organização bélica acaba de proclamar seu propósito de intervir em qualquer país do mundo em que considere que seus interesses, quer dizer, os dos Estados Unidos, estejam ameaçados.

O monopólio dos meios de informação de massa em mãos das grandes transnacionais capitalistas tem sido utilizado pelo imperialismo para semear mentiras, criar reflexos condicionados e desenvolver instintos egoístas.

Enquanto os jovens, os estudantes viajavam para a África do Sul para lutar por um mundo de paz, dignidade e justiça, na Grã Bretanha os estudantes universitários e seus professores travavam uma batalha campal contra os fornidos e bem equipados corpos repressivos que, sobre briosos cavalos, os atacavam. Poucas vezes e talvez nenhuma outra na história se viu um espetáculo semelhante da “democracia” capitalista. Os partidos neoliberais governantes exercendo seu papel de gendarme da oligarquia, traindo suas promessas eleitorais, aprovaram medidas no parlamento que elevavam a 14 mil dólares anuais o custo dos estudos universitários. O pior de tudo foi o descaro com que os parlamentares neoliberais afirmaram que o “mercado resolvia esse problema”. Somente os ricos tinham direito aos diplomas universitários.

Há poucos dias, o atual secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, ao comentar os segredos divulgados por WikiLeaks declarou: “O fato é que os governos tratam com os Estados Unidos porque interessa, não porque gostemos deles, não porque confiem em nós e não porque creiam que podemos guardar segredos. Alguns governos tratam conosco porque nos temem, alguns porque nos respeitam, a maioria porque necessita de nós. Ainda somos, como já se disse, a nação indispensável”.

Não poucas pessoas inteligentes e bem informadas abrigam a convicção de que o império ianque, como todos os que o precederam, entrou na etapa final e que os sinais são irrefutáveis.

Um artigo publicado no sítio de internet TomDispatch, traduzido do inglês pelo sítio Rebelion, expõe quatro hipóteses do provável curso dos acontecimentos nos Estados Unidos, e em todas elas a guerra mundial figura como uma das possibilidades, embora não se exclua que possa haver outra saída. Acrescenta que definitivamente esse país perderá seu papel dominante nas exportações globais de mercadorias e em menos de 15 anos perderia seu papel dominante na inovação tecnológica e a função privilegiada do dólar como moeda de reserva. Menciona que já este ano a China alcançou 12% da exportação mundial de mercadorias contra 11% dos Estados Unidos e aludiu à apresentação feita pelo ministro da Defesa da China no mês de outubro deste ano do supercomputador Tianhe-1A, tão poderoso que, como expressou um especialista estadunidense, ”liquida a máquina número 1 existente nos Estados Unidos”.

Ao chegar à África do Sul nossos compatriotas, entre as suas primeiras atividades, renderam merecido tributo aos combatentes internacionalistas que deram sua vida lutando pela África.

Há 12 anos no vizinho Haiti nossa missão médica presta seu serviço ao povo haitiano; hoje com a cooperação de médicos internacionalistas graduados na Elam – Escola Latino-Americana de Medicina. Ali lutam também pela África combatendo a epidemia do cólera, que é a doença da pobreza, para impedir que se estenda a esse continente, onde assim como na América Latina, há muita pobreza. Com a experiência adquirida, nossos médicos reduziram extraordinariamente a taxa de letalidade. Muito perto da África do Sul, no Zimbábue, em agosto de 2008, de “forma explosiva” eclodiu essa epidemia, segundo o diário “Herald” de Harare. Robert Mugabe acusou os governos dos Estados Unidos e da Grã Bretanha de introduzir a doença..

Como prova da total falta de escrúpulo ianque é necessário recordar que o governo dos Estados Unidos entregou armas nucleares ao regime do apartheid, que os racistas estiveram a ponto de usar contra as tropas cubanas e angolanas, que depois da vitória de Cuito Cuanavale avançavam em direção ao Sul, onde o comando cubano, suspeitando esse perigo, adotou as medidas e táticas pertinentes que lhe davam o domínio total do ar. Se tentassem usar tais armas, não teriam obtido a vitória. Mas é legítimo perguntar-se: Que teria ocorrido se os racistas sulafricanos tivessem utilizado as armas nucleares contra as forças de Cuba e Angola? Qual teria sido a reação internacional? Como teria sido possível justificar aquele ato de barbárie? Como teria reagido a União Soviética? São perguntas que devemos fazer.

Quando os racistas entregaram o governo a Nelson Mandela, não lhe disseram uma só palavra, nem o que fizeram com aquelas armas. A investigação e a denúncia de tais fatos seriam nestes instantes um grande serviço ao mundo. Exorto todos vocês, queridos compatriotas, a apresentar este tema no Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes

Pátria ou Morte!
Fidel Castro Ruz, 13 de dezembro de 2010, traduzido pelo Vermelho a partir do Cubadebate.

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