segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Lembrar para não acontecer jamais !


A HISTÓRIA DO MASSACRE DE ÍNDIOS NO ACRE
Pedro Biló: O massacre do lago Arapapá (*)

Sérgio Aparecido Dias (**)


Pedro Biló foi o responsável direto pelo decréscimo desse expressivo número de nativos, dizimando-os a tal modo que, em 1976, os dois aldeamentos principais dos Caxinauá se resumiam em algumas poucas dezenas de índios, a maioria já corrompida pela bebida e pela prostituição. E, apesar de seus quase 70 anos, a simples pronúncia de seu nome fazia os índios tremerem de pavor. E as lendas o tornavam mais e mais misterioso.

- Pedro Biló tem parte com o cão, seu moço! Rasteja igual cobra e ninguém vê ele de noite, não! Só enxerga, quando ele já tá enfiando a faca na goela, que Deus me livre e guarde!

- Ele tem reza braba e se apega com São Cipriano, cruz credo!!!

- O Biló? Ah, o seu Pedro é gente boa, é só não bulí com ele!

Opiniões contraditórias sobre um homem contraditório, cujas ações são louvadas por uns e repudiadas por outros. Quem era Pedro Biló? De onde viera até chegar ao Acre? Uns diziam que era cearense, já outros juravam que ele era acreano da gema mesmo, cobra criada da região.

Quanto ao próprio Biló, limitava-se a sorrir de modo enigmático, alimentando ainda mais as lendas em torno de sua pessoa. E as histórias que se contavam sobre ele eram de arrepiar e impunham respeito e medo.

Uma certa vez, num tempo qualquer do passado, necessitaram de seus serviços. Um determinado seringalista precisava de uma área que pertencia aos Caxinauá, cuja aldeia ficava no centro da terra em questão. Não havia sido possível um acordo com o chefe, que não aceitou trocar as terras por outra área num outro local, embora mais vantajoso, do ponto de vista do homem branco, é claro. E Pedro Biló foi chamado para resolver o problema.

- Seu Pedro, os caboclos não trocam aquela terra por nenhuma outra! E nós sabemos que lá tem muitas seringueiras boas de corte, daquelas que dão borracha de primeira! E se eu não posso ter aquelas terras por bem, então que seja por mal mesmo!

- Se voismecê garantí as minhas costa, entonce pode contá comigo e com os meus rapaiz. A gente arresorve isso bem rapidinho.

- Nem fique ressabiado, óxente! Além de mim, ainda tem o coronel Zeca Rabêlo, meu amigo e protetor, que é a lei aqui do alto Envira! Pode fazer o trabalho, que eu garanto que ninguém vai meter o focinho por aqui, num sabe? E se meter, a gente corta na bala, pois não?!?

- Apôis, o senhor pode contá com o meu papo amarelo, meu patrão!

- Isso mesmo que eu esperava ouvir, seu Pedro! E eu fico devendo mais esse favor ao Zeca. Adespois a gente se acerta, no final do fábrico. Vai ser aquele festão, com muita mulher e cachaça! E essa indiarada dos infernos que vá conseguir terra lá com o capêta, ora pois!

E Pedro Biló ajuntou seus homens de confiança. Com a garrafa de cachaça passando de mão em mão, iniciou um pequeno discurso, tendo à mão o seu temido rifle papo amarelo. A visão de Pedro Biló, atarracado e forte, empunhando o seu temível papo amarelo, gelava o sangue de qualquer um. E olhando fixamente aqueles rudes pistoleiros, colocou-os a par da situação:

- O seu Nezinho contratou a gente prá mode arretirá aqueles caboclo lá da terra firme do Arapapá. É serviço garantido, mais eu preciso que todo mundo se agaranta na pontaria. Se a gente se arresguardá, entonce tudo vorta vivo. Mais se argum morrê, entonce que morrido fica, ocêis tão me entendendo?

- Tamo sim - responde um dos capangas - Mais num vai sê fácil tirá os caboclo de lá! O Arapapá é quase uma serra, cheio de furna, parece mais é morada de onça, aquilo lá! Sei não Biló, mais eu acho que é bão tomá cuidado! Aquela cabocrada pode armá cilada prá cima de nóis!

- Óxente Evaristo, mais que cagança é essa?!? Nóis aqui tudo é gente do gatilho, num tem medo de cabra nenhum, quanto menos de índio, que só tem arco e flecha?! E adespois, tu tá te esquecendo do meu São Cipriano? Vou fechar meu corpo com a oração da cabra preta e com a oração do sapo seco, que eu quero ver a indiarada me enxergar! Num carece de se preocupá, não! Só quero que cada um faça a sua parte, que a reza braba e as mandinga são por minha conta, tá combinado?

- Combinado e meio, Biló! Pode contá com nóis!


LEIA M AIS

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