
O barracão no fim de cada ano, ao fazer um balanço, pesar a borracha e fazer o acerto de conta, anunciava a concessão de prêmios em três categorias: Um relógio marca Seiko, para o Tuchaua ( seringueiro da maior produção), Uma Calcinha de mulher para o preguiçoso ( menor produtividade) e um Bermuda de tergal para um menino, (categoria infanto- juvenil). Esse era titulo que eu sonhava e podia ganhar.
Para ganhar o titulo de tuchaua o seringueiro precisava ter estradas boas leite, cortar os seis dias da semana e às vezes até domingo e dia Santo. A expectativa era muito grande. Todos os seringueiros ficavam atentos observando suas pélas de borrachas subirem e descerem da balança e o desconto da Tara. (Previsão de redução de peso da produção até a borracha chegar a Manaus), isso era decido de forma monocrática pelo patrão.

O seringueiro de baixa produtividade também ficava atento e nervoso com medo de ser ridicularizado e humilhado por todos os presentes na hora de receber o prêmio de preguiçoso – uma calcinha de mulher.

A enfermidade começava se espalhar na minha perna esquerda, minha condição para caminhar na estrada estava ficando complicada, mas eu não queria parar de cortar, queria ganhar uma bermuda bonita e me preparar para mais adiante,ganhar um relógio e quem sabe... Uma mulher bonita.

Apesar de ter perdido quase um mês de corte, Continuei na competição até chegar o fim do ano. Finalmente chegou o grande dia. O gerente convidou todos os seringueiros para o acerto de contas com o patrão que tinha chegado da cidade.
Começou o sobe e desce de borracha na balança. Os comentários que rolava no meio da seringueirada era somente um: quem serão os premiados com o relógio, a bermuda e a calcinha. A tardezinha veio o resultado. Foi convidado em primeiro lugar para receber o relógio o Tuchaua, aplausos! Em seguida fui chamado para Receber à bermuda de tergal, Aplausos! O anuncio do terceiro prêmio não veio. O patrão já sabia que o homem que tinha ficado em ultimo lugar de produção estava com uma peixeira de 12 polegadas “vazada de pé a ponta” ( amolada). Ele estava disposto acabar a brincadeira em derramamento de sangue. O patrão não quis correr o risco.
Os seringalistas usavam propagandas machistas e outros tipos de artifícios para aumentar a produção de borracha e seus lucros. Os seringueiros não queriam serem comparado com mulher- e muitas vezes tinham que sacrificar a própria saúde para não serem humilhados. Em Santa Maria, Jorge Alves, Conhecido por "Mestre Jorge", que sofria de problemas asmáticos e ficava semanas sem poder trabalhar, um dia acabou com a brincadeirinha do barracão.
Chagas, esse texto é mesmo seu? que lindo!
ResponderExcluirTão sincero, real, e sensivel, parece até meus pais ambos ex-seringueiros, contando suas historias pra mim e minha irmão.
Adorei seu blog, vou voltar.
Boa noite, Camarada