A eleição de Dilma Rousseff foi uma importante vitória estratégica do povo brasileiro e, considerando que se trata da terceira vitória consecutiva das forças democráticas e progressistas em eleições presidenciais desde 2002, é um feito histórico inédito.
Abrem-se, assim, novas perspectivas para o país, que passa a ter no seu horizonte de curto e médio prazo a realização de substanciais transformações políticas, econômicas e sociais no rumo da construção de um país soberano, democrático, progressista e socialmente avançado. Depois dos dois mandatos do presidente Lula, que iniciou este processo, as condições hoje são mais maduras para essa grande empreitada.
Esta é a razão por que a vitória de Dilma, eleita sobre a base de uma ampla aliança política e da mobilização do movimento popular organizado, desperta tantas expectativas.
Igualmente, a eleição da candidata da coalizão Para o Brasil Seguir Mudando reveste-se de significado internacional, sobretudo no âmbito latino-americano. Uma derrota das forças progressistas brasileiras teria impacto profundamente negativo sobre o processo de avanços democráticos e patrióticos na região. Não foi uma escolha programática qualquer de Serra o caminho que adotou de atacar os governos progressistas e de apontar suas armas políticas e ideológicas para a política externa de Lula, que tem por centro a integração soberana e solidária da América Latina e a busca de um novo lugar no mundo para o Brasil como grande nação progressista a desempenhar papel de protagonista na luta pela paz e por uma nova ordem política e econômica internacional.
Passadas as eleições, o centro das atenções volta-se para a formação do novo governo, a chamada transição, e o equacionamento das principais lutas e tarefas do momento. Tem início um intenso movimento de pressões e contra-pressões sobre a presidente eleita. Derrotadas pelo desaire eleitoral da candidatura em que apostaram as suas principais fichas, as forças conservadoras, utilizando-se do seu imenso poderio midiático, retomam a iniciativa e procuram ditar a agenda política anunciando as suas prioridades. Propõem que a presidente eleita renuncie aos seus compromissos com a nação e o povo e inicie o seu mandato com reformas de natureza regressiva, entre elas a reforma fiscal com o discurso de que é preciso cortar o gasto público e outras que redundariam em perda de direitos para as massas trabalhadoras e populares.
No espectro partidário há um frenesi de articulações tanto entre as forças da oposição derrotada, como da coalizão liderada por Dilma. Na oposição, os principais próceres do PSDB anunciam oposição dura, reformulação programática, reorganização das fileiras, num processo cujas dimensões não se pode prever, rotulado por alguns como refundação. Nesse mesmo âmbito, o reacionário DEM, em frangalhos, sem capacidade de juntar os cacos da acachapante derrota que sofreu, apresenta-se sem rumo e alguns dos seus líderes lançam-se a um leilão de fusões.
Não se alimentem ilusões quanto a essa perigosa dupla – PSDB-DEM. Em par ou separados, e com a ajuda de outras legendas que há muito capitularam ao neoliberalismo e ao conservadorismo, como o PPS, organizarão a oposição a Dilma no Congresso e na sociedade, para o que contarão também com a mídia e com o protagonismo de lideranças da sociedade identificadas com a direita.
A coalizão que apoia Dilma depara-se com novos e maiores desafios. O mais importante de todos é a organização do novo governo com nitidez programática e capacidade de manter unidas e mobilizadas as forças coletivamente responsáveis pela vitória.
Governar um país como o Brasil, depois da experiência que viveu nos últimos oito anos em que deu os passos iniciais para uma grande mudança; num mundo em crise e carregado de ameaças; num quadro interno em que ainda há profundas iniqüidades sociais a combater e persiste intocado um sistema político ainda moldado pelos interesses das classes dominantes retrógradas, é tarefa hercúlea. Dilma reúne as condições para enfrentá-la e assumirá o governo no dia 1° de janeiro de 2011com todo o respaldo das forças progressistas.
Governar o Brasil é defrontar-se com uma espécie de encruzilhada, uma disjuntiva com dimensões históricas.
Para o Brasil avançar, o governo Dilma não poderá ser a mera continuidade do governo Lula. Não passa de vã ilusão supor que haverá sempre um governo em que “todos ganham”, a burguesia monopolista-financeira e o povo trabalhador, o imperialismo e as forças vivas da nação. Numa época de mudanças, inevitavelmente a luta entre esses interesses objetivamente antagônicos se manifestará através de grandes embates políticos e sociais.
De imediato, já desde a transição, é preciso enfrentar os problemas urgentes, como a defesa da economia nacional em face das guerras comercial e cambial no plano global, a definitiva aprovação do marco regulatório do pré-sal e encontrar saídas viáveis para corresponder aos justos reclamos do povo quanto ao aumento real do salário mínimo, à saúde, à segurança e demais problemas sociais agudos . A partir deste patamar, entram na ordem do dia as reformas estruturais, indispensáveis para transformar o país.
A tarefa exige grande unidade das forças progressistas, a estruturação do governo sobre a base da ampla aliança de forças que apoiou Dilma e de um núcleo de esquerda capaz de imprimir consequência e combatividade às ações políticas necessárias para fazer o Brasil avançar.
Editorial do Portal Vermelho
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