sábado, 10 de abril de 2010

Minhas raízes e juventude

Como a maioria dos jovens que vivem numa sociedade capitalista e consumista,a passagem de minha infância para a idade adulta, foi afetada pela vulnerabilidade, problemas reais que a juventude enfrenta. A falta de trabalho e oportunidade para atender os anseios pessoais e ajudar no sustento da família.

Era preciso trabalhar de dia e estudar a noite. O problema era que não havia alternativa para ganhar algum dinheiro senão fazendo empreitada para fazer desmate em fazendas, tirar lenha para queimar tijolos e para a Eletroacre. enfrentar qualquer trabalho braçal.

O maior problema era conciliar o tempo de trabalho com a escola. Geralmente essas referidas opções de trabalho eram todas fora da cidade, às vezes quando terminava o serviço, vinha correndo para chegar a casa, tomar um banho de cacimbão, com água puxada no carretel. Tudo era demorado, até pegar um caderno amarrotado e chegar à escola já tinha perdido uma boa parte da aula.

Todo o sacrifício durante a semana, não me permitia um sábado e domingo de descanso e diversão. O dinheiro que eu ganhava não era suficiente para comprar uma roupa melhor e um sapato para ir à festa e arrumar uma namorada. Nesse conflito de demandas e aspirações reprimidas, fui convidado para um mundo desconhecido, onde eu podia me refugiar: passei a usar drogas.

A situação que já era difícil ficou muito mais. Veio à indisposição para o trabalho e o aumento brutal da discriminação. Tarauacá começava ficar um lugar impossível para me continuar. Conversei com meus pais e manifestei a vontade de ir passar um tempo em Rio Branco. O objetivo era arrumar um emprego melhor, estudar e fugir das amizades erradas. Recebi todo apoio moral, coloquei minha bagagem num saquinho de palha, entrei no Búfalo (Avião da FAB) e parti para a capital.

Em Rio branco, após alguns dias na casa de um parente, fui morar na casa do estudante, uma residência estudantil que abrigava estudantes do interior. Encontrei alguns Taraucaenses morando na residência, entrem os quais, estava o índio Yawanawá Biraci Brasil. A residência oferecia apenas um beliche e um colchão sem lençol. Era preciso arrumar dinheiro para a alimentação e outras necessidades básicas. Era preciso arrumar um emprego e se matricular numa escola.

Comecei a luta na busca por uma oportunidade de emprego e só ouvia não! Matriculei-me em uma escola, mas quando chegava a noite, hora de ir estudar eu ainda não tinha tomado café. A fome apertava na hora de dormir e eu me desesperava porque sabia que ao amanhecer o dia seguinte também não tinha dinheiro para comprar um pão.

Comecei a perambular pelo centro da cidade. Um dia um fato me chamou grande atenção. Cheguei frente à Assembléia Legislativa e encontrei uma multidão de pessoas com faixas e cartazes, revezando-se em um mega fone, gritando palavras de ordem: DIRETAS JÁ!

Os presentes ao manifesto majoritariamente, usavam camisetas e calças desbotadas. Os homens a maioria eram Barbudos. Apesar de não saber o que aqueles malucos defendiam, Fiquei encantado com os gestos, fique até dispensar todo mundo do local, gostei muito de ter ficado ali, mas minha barriga continuava roncando. Como a oportunidade de trabalho não veio, apareceu mais uma vez as “amizades” que eu tinha deixado em Tarauacá.

Cheguei a conclusão que Rio branco era mais uma ilusão. Todavia, não queria voltar para Tarauacá nas mesmas condições que tinha saído. Resolvi arriscar mais. Decidi tentar Manaus. Fui ao Palácio Rio branco fiz mais uma reserva num vôo do búfalo e me preparei para partida. O grande problema era que em Manaus eu não tinha nenhum conhecido. Mais eu estava decidido.

No dia de viajar, arrumei meus poucos pertences fui para a parada de Ônibus. Subi no primeiro que apareceu em direção ao aeroporto. Pedi o cobrador para deixar eu pular por cima da catraca, não tinha dinheiro, assim cheguei até o aeroporto Presidente Médici. Enquanto aguardava a chamada para o embarque, enxerguei uma pessoa adentrando pela porta de desembarque e caminhando de cabeça baixa em minha direção. Comecei a tremer, não acreditava que era verdade. Eu estava vendo minha mãe e não sabia como ela estava chegand ali exatamente no momento que eu ia enfrentar uma difícil aventura. Aguardei um pouco e não tive mais duvida, era mesmo minha protetora, que mesmo sem saber que eu ia viajar naquele dia, mas sabendo que eu estava passando dificuldades, decidiu viajar a Rio Branco para me buscar de volta Para Tarauacá.

Voltei a Tarauacá disposto a lutar por uma nova vida. Longe das drogas e das más Amizades. Hoje depois de tudo que passei tenho convencimento de que muitos jovens buscam as drogas não querendo a destruição de si ou da sociedade, mas como uma anestesia, uma equivocada busca de solução face as dificuldades que enfrentam.

Cuidar da juventude é a principalidade. Uma sociedade onde os jovens tem oportunidades e são felizes, transforma-se num País muito mais próspero.

2 comentários:

  1. Parabéns pela FORÇA,CORAGEM e DETERMINAÇÃO de emfrentar seus problemas numa época dificil e de muitas descobertas...De todos os capítulos da sua linda história essa sem dúvidas foi o mais comovente e lindo...PARABÉNS vc é um belo exemplo a ser seguido.

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  2. passei um tempo sem aparecer!!!
    voltei...
    Bela e rica historia de vida, a sua camarada.
    jovens barbudos gritando (diretas ja...)
    escapar do mundo das drogas ate hj nao e tarefa facil para a maioria podre e jovem desse pais.

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