sábado, 24 de abril de 2010

Minhas Raízes e a Juventude esquerda católica.

1985 voltei a Tarauacá após uma temporada de muito risco e sofrimento em Rio Branco. Eu continuava nas trevas da escuridão, Precisava avistar um horizonte que me guiasse para luz. Embora estivesse voltado ao convívio com a minha família, a falta de oportunidades e a discriminação não me dava sossego.

Minha rotina diária era sempre a mesma. Durante do dia nada de produtivo. Há noite saia para encontrar com um circulo estreito de amigos. Eram poucos não passava de meia dúzia.


Um determinado dia fui a Praça Tarauacá e encontrei um grupo de jovens (mais esquisito que eu) tocando viola. Dois usavam colares e pulseiras com dentes de macacos, jacarés, onças e tudo que era bicho. As musicas mais tocadas era Geni de Chico Buarque, José de Paulo Diniz e Cidadão de Zé Geraldo. Tocavam também musicas de Padre Zezinho.

Fiquei observando e um dos esquisitos aproximou e apresentou-se dizendo pertencer aos Maristas da Igreja católica. Falou que estavam recrutando jovens para formar um grupo para lutar pelos direitos da juventude. Mesmo com a praça escura, vi uma clareira se abrir em minha frente. Fui convidado para fazer parte da organização e aceitei prontamente.

O grupo se Chamava JESC- Juventude esperança comum. A farda era vermelha, o escudo tinha um fundo branco com um sol encarnado. Realizava reuniões todas as tardes no Coreto da praça ao lado da igreja. Os lideres eram Edvaldo e Moisés. Na segunda reunião fui chamado a assumir tarefas de direção. O mais difícil foi aceitar participar de uma peça de teatro com mais 20 personagens. Tinha o agricultor, o fazendeiro, o seringueiro, a prostituta, o maconheiro e outros. O personagem que eu iria representar se chamava “O Guerrilheiro”. Fique aperreado eu não sabia (como até hoje não sei) representar.

Na apresentação da peça, o diretor ficava perguntado aos atores o que significava a paz para cada um. Lembro que eu o guerrilheiro, respondia com extrema rebeldia: “ Minha paz é ter a certeza que do cano do meu fuzil sairão pão escolas, saúde e agasalho para meu povo. É ver a queda e o desprezo dos generais que transformam proteção oficial em repressão sangrenta e camuflada. É escrever com luta e garra a história do meu povo. É levantar do chão com braços firmes, mãos unidas cruzando montanhas.... Eu nem se quer sabia o que era realmente um guerrilheiro. Todavia fui me apaixonando pelo personagem e o grupo.
A militância no JESC era muito grupal. A gente não dava importância a título ou cargo. Eu estava feliz porque fazia parte de um grupo de pessoas extremamente ligadas entre si, com uma convivência intensa. O grupo logo passou a assumir o protagonismo do movimento juvenil. Organizou grêmios Livres nas escolas, Umes- união municipal dos estudantes e fundou um informativo periódico chamado A VOZ DA LUTA. O Jesc decidiu expandir sua influencia alem do movimento juvenil. Começou a visitar aldeias indígenas, organizar associações de moradores, associação de professores, fazer festivais de musicas e denunciar a corrupção política.


Os padres começaram a desconfiar que dentro da Igreja que era muito conservadora estivesse nascendo um movimento político de esquerda. As relações foram ficando ruins e o grupo que era composto em boa parte jovem de classe média, também passou a divergir.

Não é pretensão afirmar que o Jesc foi o cimento que pavimentou o caminho das idéias socialistas e de esquerda em Tarauacá. Falar do papel do Jesc demanda escrever várias paginas da nossa história, é analisar a construção de uma nova fase do pensamento mais avançado , progressista e conseqüente em Tarauacá.

Um comentário:

  1. TARAUCA É Mesmo um lugar distinto. No seio da igreja fez nascer a nova varguarda jovem do socialismo no Acre.
    Belo texto Camarada, continue seu resgate historico

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