REDAÇÃO ÉPOCA
Época - Já tomou sua decisão ?
Marina Silva - Tenho vivido três momentos. O primeiro é sair ou não sair do PT, uma relação de 30 anos. O segundo, decidir sobre o convite à filiação ao PV. E, num terceiro momento, uma candidatura à Presidência. O modelo original do PV foram os partidos verdes europeus. Nesses países, as questões essenciais foram atendidas e fez-se uma luta de defesa do verde nos termos clássicos. Hoje, o principal desafio deles é a sustentabilidade. É preciso buscar uma ressignificação do PV, universal, em função da crise climática, sem deixar de dar respostas em todos os setores: economia, agricultura, energia, infraestrutura, ciência e inovação tecnológica.
Época - A mudança do PV o aproximaria de sua trajetória pessoal?
Marina - Exatamente. Em função do que eles estão propondo, me interessou ouvi-los. Quero fazer uma discussão de conteúdo programático. Nenhum partido conseguirá homogeneizar a sociedade, mas acho que eles dão uma contribuição importante. A sociedade é diversa, multicêntrica, e é assim que os partidos têm de aprender a interagir. A falta dessa interação faz com que a gente esteja na crise política de hoje.
Época - A reação a sua possível candidatura a surpreendeu?
Marina - A todos e inclusive a mim. Vou me recolher, pensar e elaborar as questões em minha cabeça e meu coração. Não quero me colocar nesse lugar de candidata, a priori. Não é justo, como se eu tivesse saindo do PT para ser candidata. Estou fazendo uma discussão, em termos programáticos, de que o desafio da sustentabilidade é o desafio deste século. Há pelo menos dez anos, é o que está posto no horizonte das comunidades em que tenho interação - mudança de modelo de desenvolvimento. É preciso transitar para essa economia descarbonizada. Isso não vai ser levado a cabo, se não for assumido como estratégico. A eleição de Barack Obama faz com que as coisas tenham outro significado. Ele é aquele superatleta que, quando entra no jogo, faz a diferença. O Brasil tem as melhores condições para fazer essa inflexão sem prejuízo da economia. Sempre fui por esse caminho no governo. Quando não deu, saí. Mas isso tem de estar em todos os partidos: no DEM, PSDB, PT, nas empresas. Se não for assim, não vamos dar conta.
Época - Sua carta de demissão elogia a política ambiental do governo Lula.
Marina - Na carta, eu agradeço ao presidente Lula e digo que, enquanto encontrava apoio político para as questões estruturantes, eu permaneci. Como não encontrava mais condições políticas para essa agenda, saí. Houve avanços, mas o desafio é gigantesco. Estou sendo coerente com a carta.
Época - Sua relação com o presidente Lula ficou trincada?
Marina - A relação não precisa trincar para que seja refeita. O presidente Lula é um realizador de utopias, não mais um mantenedor de utopias. A utopia deve continuar.
Época - O ex-deputado José Dirceu disse que o PT deve exigir seu mandato de volta.
Marina - O PT pode reivindicar o mandato com base na lei, mas não será uma decisão arbitrária. Haverá um julgamento no Tribunal Eleitoral, e me defenderei. Não é essa possibilidade que vai orientar minha decisão de ir ou não ir para o PV.
Época - A senhora está rompendo definitivamente com o PT?
Época - A senhora está rompendo definitivamente com o PT?
Marina - Os frutos que plantei permanecem nos celeiros onde foram semeados. O que desejo é semear em novas searas.
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