quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Victor Jara. A história comovente de um poeta revolucionário

Cada vez mais me comove (...) a pobreza de meu próprio país, da América Latina e de outras nações do mundo (...) Por isso (...) é que preciso (...) algum verso que abra o coração como uma ferida ou em alguma linha que nos ajude a sair de dentro de nós mesmos, para ver o mundo com novos olhos (Victor Jara)


NA MANHÃ de 11 de setembro de 1973 a notícia do golpe já havia corrido todo o país. Seguindo orientação da CUT chilena, Victor Jara dirigiu-se apressado à Universidade Técnica para se juntar aos estudantes e professores que prometiam resistir. O campus foi cercado por tropas do Exército.

A madrugada foi de terror – tiros e explosões por toda parte. Os que tentavam escapar do cerco eram imediatamente abatidos. Jara buscou, então, elevar o moral dos sitiados usando a sua melhor arma: o canto. Na manhã de 12 de setembro, os tanques avançam contra a universidade. Depois de uma luta desigual, os resistentes são obrigados a se render.

Reunidos no pátio, forçados a se deitar com as mãos na cabeça, começam a ser espancados e humilhados. São levados para o Estádio Chile. Mal chegam, Victor é reconhecido por um oficial que lhe diz: “Você é aquele maldito cantor, não é?”. Antes que possa responder, é barbaramente agredido e conduzido a um local especial do estádio – dedicado aos militantes mais perigosos.

O destino de Jara está selado. Os militares o arrastam para o porão. Novas torturas. Quando volta às arquibancadas, seu rosto está ensangüentado e mal pode andar ou falar. O clima é dantesco. Prisioneiros entram em surtos de loucura, tentam escapar e são executados. Outros se suicidam. No dia 14 de setembro os prisioneiros começam a ser transferidos para o Estádio Nacional do Chile.

Victor pressente que aqueles seriam os seus últimos momentos. Pede papel e caneta e escreve o seu derradeiro poema. Mal acaba os últimos versos, os carrascos vêm buscá-lo. Companheiros conseguem salvar o poema. Recomeça a sessão de espancamentos. Um oficial grita várias vezes: “Cante agora, se puder, seu filho da puta!”. Quase sem vida, Jara consegue forças para cantar a estrofe do hino da Unidade Popular, “Venceremos!”.

Brutalmente agredido, tendo as mãos quebradas, é arrastado aos porões do ginásio. Esta seria a última vez que o veriam vivo. Dois dias depois, seis corpos desfigurados e perfurados a bala são achados na periferia da cidade. Um deles era do compositor e militante comunista Victor Jara. NA – Os dados biográficos de Victor Jara foram extraídos da obra Canção Inacabada escrita por sua esposa, Joan, e publicada pela Editora Record.

Augusto Buonicore é historiador.




Venceremos, venceremos,
Mil cadenas habrá que romper,
Venceremos, venceremos,
La miseria sabremos vencer.

Campesinos, soldados, mineros
La mujer de la patria también,
Estudiantes, empleados y obreros,
Cumpliremos con nuestro deber.

Sembraremos las tierras de gloria,
Socialista será el porvenir,
Todos juntos haremos la historia,
A cumplir, a cumplir, a cumplir
(…)



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