Lideranças indígenas temem conflitos com arredios na região do Alto Tarauacá, no rio Muru
Cerca de 16 famílias da etnia Kaxinawa, que moram na última aldeia da terra indígena Humaitá, no alto Tarauacá, rio Envira, estão sendo sitiadas por índios isolados que vivem na região. A denúncia é feita pelo professor e pajé da Aldeia Novo Futuro, Francisco de Assis Mateus Lima, mais conhecido por Huni Kuin Kashinawa.
Segundo ele, a etnia está sofrendo pressão de índios “brabos”, que estão circulando nas proximidades do Humaitá. “Tememos que haja um conflito sério com esses índios. Não sabemos de que tribo são e nem que língua eles falam. A informação que temos é que eles costumam andar em grupos formados por mais de 15 pessoas”, comenta Huni. Kuin diz que as lideranças kaxinawas suspeitam que índios arredios tenham intenção de saquear terçados, facas, tecidos, ou, até mesmo, invocar um conflito armado. “Antes esses índios costumavam circular em nossa terra indígena somente no verão. Mas atualmente isso tem acontecido durante todo o ano”, relata.
Para solucionar o problema, Huni argumenta que é necessário a intervenção da Fundação Nacional do Índio (Funai), assim como do sertanista José Carlos Meirelles e do governo do Acre. “É preciso que sejam criados dois postos de vigilância [Frente de Proteção] da Funai, sendo um no rio Muru e outro no próprio rio Humaitá, já que é na comunidade Boa Esperança onde os índios ‘brabos’ descem”, ressalta.
Para o antropólogo e indigenista Terri Valle de Aquino, a situação é temerosa, tanto que ele se diz surpreso por ainda não ter ocorrido nenhuma morte entre os kaxinawas e os índios isolados. “Há um risco iminente de acontecer um conflito sério e com mortes. Já houve caso de saques e os kaxinawas têm encontrado vestígios da presença dos arredios”, frisa Aquino.
Por outro lado, Terri cita o programa de Proteção da Funai a índios isolados. De acordo com o antropólogo, a fundação já dispõe de um recurso na ordem de R$ 450 mil, obtido por meio de emenda da senadora Marina Silva (PV-AC), para proteger a população de isolados nas cabeceiras do Humaitá e Envira.
“Por isso também é importante a participação do governo do Acre nesse processo, que pode disponibilizar recursos para a contratação de trabalhadores para atuarem nos postos de vigilância e fiscalização. Nossa proposta é respeitar as tradições culturais dos índios isolados e protegê-los, somente isso”, enfatiza o indigenista.
POR WHILLEY ARAÚJO - whilley@pagina20.com.br
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