segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Hildebrando Pascoal no banco dos réus


Advogado Sanderson Moura: defesa de Hildebrando



O coronel da Polícia Militar e deputado cassado Hildebrando Pascoal começa a ser julgado nesta segunda-feira em Rio Branco (AC) por causa do crime da motosserra juntamente com o dentista Pedro Pascoal (irmão dele), o fiscal de tributos Adão Libório (primo) e o ex-sargento da PM Alex Fernandes


Não a impunidade!

Leia ainda o artigo de altino Machado sobre os crimes de Hildebrando e a entrevista com temido coronel em 1996.


Nos primeiros dias de julho de 1996 telefonei para a casa do então deputado estadual Hildebrando Pascoal. Como correspondente do Jornal do Brasil no Acre, minha intenção era entrevistá-lo.

Aos 43 anos, Pascoal estava sendo acusado pelo Ministério Público Federal de liderar um grupo de extermínio ligado à Polícia Militar do Acre, responsável por dezenas de assassinatos e com ligações com o narcotráfico, o que motivou um pedido de intervenção federal no Estado.

A situação se tornou insustentável mesmo a partir do dia 30 de junho daquele ano quando, num posto de gasolina, o subtenente reformado Itamar Pascoal, irmão de Hildebrando, foi assassinado pelo pistoleiro piauiense Jorge Hugo Júnior, o Mordido, por causa de uma negociação que envolvia a libertação de um traficante do presídio estadual.

Hildebrando e o primo dele, o coronel Aureliano Pascoal, que comandava a PM, foi acusado pelos procuradores da República de se servirem da corporação como lideres da vingança da morte de Itamar.

O mecânico Agilson Firmino dos Santos, o Baiano, vítima de uma sessão de tortura, foi assassinado porque ajudou o assassino de Itamar a fugir. Ainda vivo, baiano teve seus olhos perfurados, braços, pernas e pênis amputados com a utilização de uma motosserra, além de um prego cravado em sua testa e vários tiros na cabeça.

Wilder, filho de Baiano, de 13 anos, que era expecional, também foi torturado até a morte para revelar o paradeiro do pai. Clerisnar, mulher do assassino de Itamar Pascoal, chegou a ser sequestrada com duas crianças e levada para São Paulo.

Na ocasião, Hildebrando era o homem mais influente das famílias Pascoal e Bandeira, originárias dos estados do Ceará e Pernambuco e que figuram entre as mais tradicionais do Acre.

Dentro e fora da PM, o carisma do coronel, 1,90m, podia ser medido pela votação que obteve num estado onde com até 600 votos se elegia deputado estadual.

Foi o deputado mais votado da história política acreana com 7.841 votos e se vangloriava de ser, proporcionalmente, o mais votado no Brasil. Após as barbaridades, foi eleito deputado federal após o escândalo e foi cassado, em meio as acusações que pesaram sobre ele, em 1999.

Formado pela Academia do Barro Branco, em São Paulo, com pós-graduação no Recife, Hildebrando Pascoal ingressou na primeira turma recrutada pela PM do Acre, em 1974.

Galgou todas as graduações e postos dentro da corporação. Possui dez irmãos, mas, ao todo, as famílias Pascoal e Bandeira são mais de duas mil pessoas no Acre.

Além de Aureliano e Hildebrando, a PM possui em seus quadros o oficial médico Pedro Pascoal e o sargento Silas, casado com a então vice-procuradora geral de Justiça, Vanda Denir Milani Nogueira, cotada par reassumir o cargo nesta semana.

Naquele dia, quando telefonei, Hildebrando Pascoal não estava em casa. Deixei recado. No dia seguinte, telefonou para mim por volta das 18 horas.

- Você quer falar comigo? Então venha até minha casa.

Confesso que fui rezando, sozinho. Ao chegar lá, o coronel abriu o portão. Logo avistei uns seis policiais armados, postados junto ao muro.

Havia duas cadeiras no pátio, bem perto da entrada da casa, de onde eu avistava a sala e nela as crianças de Clerisnar que eram mantidas em cárcere privado.

O coronel mandou que sentasse numa das cadeiras. Obedeci. Ele permaneceu em pé, dedo em riste. E com o corpo quase colado ao meu, advertiu:

- Você sabia que posso matá-lo aqui, agora? - indagou.

- Eu não quero morrer, coronel. Mas não medo de morrer - respondi.

- Você é mesmo atrevido. Bem que seus colegas me avisaram - retrucou o coronel.

Entreguei-lhe, a pedido do procurador da República que estava preocupado com minha vida, a cópia do relatório. E Hildebrando então se deu conta de que eu não era o autor das denúncias.

- Coronel, estou aqui para que o senhor possa apresentar a sua versão. O jornal exige isso de minha parte - insisti.

- Você sabe como me defender - ele rebateu.

- A melhor pessoa para defendê-lo nesta hora é o senhor mesmo. Trouxe um gravador.

- Tudo bem, pode ligar.

Hidebrando estava na companhia do então secretário de Segurança Pública, o boliviano Ilimani Lima Suarez, além de sete guarda-costas. Ao término, quando agradeci pela entrevista, Pascoal avisou:

- Agora você é um homem vivo.

A entrevista a seguir foi publicada parcialmente no Jornal do Brasil, mas o Página 20, do Acre, a destacou em suas páginas centrais na íntegra. Ainda ao término da entrevista, Hidebrando apoiou seu braço imenso sobre meus ombros e comentou sério:

- Você é um grande filho da puta, Altino.

- Por que, coronel?

- Porque você conseguiu fazer eu falar de algo que eu estava decidido a não falar com ninguém.

Clque aqui e leia no Blog da Amazônia a única entrevista exclusiva de Hildebrando Pascoal sobre a série de crimes que já lhe renderam mais de 88 anos de sentença na Justiça Federal e mais de 68 anos na Justiça Estadual.

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