segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Marina entre o céu e o purgatório


Marina ao El País

Eu queria fazer como
o PT fez há 20 anos,
quando rompeu com os
partidos
tradicionais,
diz Marina ao jornal
espanhol neste domingo.


A antiga ministra do Ambiente [2003-2008] abandonou o Partido dos Trabalhadores porque o presidente Lula não respaldava suas ‘medidas drásticas’ contra o desmatamento da Amazônia.
Marina Silva tem uma imagem frágil que desmente sua biografia. Nascida há 51 anos numa família muito pobre de seringueiros [coletores de caucho] trabalhou desde pequena na zona rural como criada e foi alfabetizada até os 15 anos. Aprendeu a ler num convento antes de se dedicar ao sindicalismo e de converter-se numa íntima colaboradora do legendário ecologista Chico Mendes. Terminou doutorando-se em História da Arte. Casada, tem quatro filhos [de 21 a 10 anos].

Marina viveu uma longa trajetória política no PT sem perder a força na defesa de suas idéias e jamais foi acusada de corrupção por quem quer que seja. Seu desembarco no Partido Verde faz um mês, e neste partido, provavelmente, será candidata a presidente, o que vem causando um terremoto político no Brasil.

Em seu austero gabinete no senado, Marina se esforça em não lançar o menor ataque a Lula. Inclusive responde brincando a uma acusação do presidente que tem afirmado que a campanha de Marina será ‘um samba de uma nota só’. ‘Ele está sendo generoso porque me brinda com um de seus lemas de campanha, que era, esse sim, de uma nota só: Lula lá’, diz a ex-ministra rindo. No entanto, a senadora age com cuidado ao afirmar que o progresso no Brasil obedece ‘um processo dos últimos 16 anos’, como que dizendo que tudo começou no governo FHC e não no governo Lula.

O que mudou desde a chegada de Lula ao poder?

Marina - Tem havido algumas conquistas importantes. Por exemplo, o equilíbrio fiscal e a estabilização da moeda, o que fez o Brasil atravessar a atual crise com certa tranqüilidade. Com a chega de Lula houve um certo susto, mas eu diria, como dado positivo, que a democracia está consolidada e que temos tido avanços notáveis na agenda social. O Brasil tinha índices de pobreza inaceitáveis e nos últimos anos foram reduzidos em 19%.

Por que a senhora saiu do governo Lula?

Marina – Não sentia que tinha apoio necessário para manter as políticas ambientais tal como foram concebidas. Em três anos nosso plano havia conseguido reduzir em 57%, mas ao não cumprir outras diretrizes a Amazônia voltou a sofrer com o risco da retomada do desmatamento de sua floresta. Tomamos medidas drásticas, como proibir o crédito a empresas ilegais, levar à prisão não só quem destruía a floresta, mas também quem plantava, produzia e exportava. Houve uma grande tensão e tanto eu, como minha equipe vimos que o governo estava disposto a revogar essas medidas.

Há um grande debate sobre até onde a Amazônia pode desenvolver-se.

Marina – O termo sócio-ambientalismo, que significa integrar a proteção da floresta com o desafio de promover a inclusão social, foi cunhado na Amazônia a partir da luta de Chico Mendes. Para nós, da Amazônia, essa visão de defesa do ambiente nunca foi interpretada em termo de conservar essa terra como um santuário inviolável. Desde o começo todo o esforço versou sobre como integrar meio ambiente e desenvolvimento econômico numa única equação, sabendo que não é possível repetir com a Amazônia os erros cometidos na Mata Atlântica [só resta 5%], ou do cerrado [planalto brasileiro cuja destruição já alcançou 50%]. 17% da Amazônia já foi destruída.

A senhora culpa Lula pela falha na política ambiental?

Marina – Não se trata de personalizar. O problema de assumir ou defender uma economia sustentável como estratégia é algo complicado que não existe, todavia, em nenhum lugar do mundo, e que nenhum partido assume completamente. O que o PV e eu estamos fazendo é inovador e não podemos satanizar os outros por não terem feito ainda. O que critico é a perda de tempo e o Brasil já poderia estar dando esse passo porque tem as melhores condições para isso.

A senhora manteria a política econômica de Lula?

Marina – Os processos são acumulativos. Não existe espaço para processos nihilistas [redução a nada; aniquilamento] em relação ao que já foi conquistado. Existe um reconhecimento de que nos últimos 16 anos o Brasil conseguiu o equilíbrio fiscal e a estabilização da moeda, junto com uma grande inovação que Lula introduziu que foi a distribuição de renda. Tudo isso deve ser preservado. Creio que temos espaços para melhorar e já não existe o perigo de se destruir tudo o que foi feito nesses 16 anos.

Após a descoberta de jazidas de petróleo e gás no Brasil começa a se falar em um certo nacionalismo.

Marina – Brasil tem uma economia de mercado. Aberta. É legítimo que os países queiram usar seus recursos naturais em benefícios de seu povo, o que não significa que vamos nos fechar como uma ilha. Hoje é impossível pensar em fechar as portas para o capital estrangeiro. O que acontece é que, às vezes, algumas empresas estrangeiras querem atuar aqui flexibilizando a legislação ambiental, coisa que eles não fazem em seus países. E assim não pode ser.

Um dos grandes desafios do Brasil é a corrupção, que está disseminada nas instituições de forma alarmante.

Marina – Ainda que reconhecendo que o Brasil tem problemas graves de corrupção não ousaria dizer que Lula não tenha feito nada a esse respeito. Ele pôs em marcha sistemas de controles e ampliou significativamente a capacidade de investigação da Polícia Federal. Quando fui ministra levamos para cadeia 725 pessoas. Muitos eram servidores públicos. Sem essa liberdade da PF dada pelo governo isso seria impossível. Se hoje se vê mais corrupção é porque se investiga mais.

Num hipotético segundo turno em 2010, a senhora votaria na candidata de Lula ou no candidato do PSDB?

Marina – Não posso falar ainda como candidata, mas creio que o debate deve ser sobre idéias e que a ética deve prevalecer. Eu nunca mentiria sobre a honra de alguém somente para ganhar uma eleição. E do ponto de vista político se eu for candidata é para chegar ao segundo turno. Eu queria fazer algo parecido com o que o PT fez há 20 anos, quando rompeu com os partidos tradicionais. Agora chegou outra vez o momento de unir todas as forças, sociais, políticas, intelectuais do país, para criar uma nova estratégia para o Brasil.


[publicada originalmente em espanhol no El País, de Madrid, em 13/09 - tradução: oestadoacre.com]

Matéria em espanhol dos jornalistas JUAN ARIAS / SOLEDAD GALLEGO-DÍAZ




A utopia verde de Marina Zequinha Sarney e Gabeira

Da coluna da jornalista Mônica Bergamo:Curva verde


O PV aderiu aos mais modernos instrumentos de marketing político para turbinar a pré-candidatura de Marina Silva à Presidência. A participação dela no programa nacional do partido, na semana passada, foi monitorada por pesquisas do instituto Ipespe com grupos de eleitores que usaram equipamentos modernos em que podem girar o dial para a direita quando gostam do que estão vendo ou para a esquerda quando rejeitam. As informações permitem a formação de um gráfico.

Estava tudo muito bom, tudo muito bem no programa do PV, com Marina sendo identificada com os conceitos de confiança, esperança, transparência, sinceridade, força. Até que... os políticos -entre outros, Zequinha Sarney (PV-MA) e Fernando Gabeira (PV-RJ)- apareceram discursando ao lado dela. Os eleitores imediatamente viraram o dial para a esquerda e a aprovação ao programa caiu.

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