Aí estava o Pepe, com a pinta que menos se poderia atribuir a um presidente, com seu jeito de “chacarero” – segue cuidando sua chácara -, sem gravata, com a sua companheira de vida, simplesmente assumindo como presidente do Uruguai.
O Pepe, que foi um grande dirigente tupamaro e, nessa condição, foi baleado gravemente em um tiroteio com as forças militares da ditadura uruguaia. Recolheram seu corpo, consideraram-nos morto e o levaram à morgue. Quando perceberam que ele tinha sobrevivido, o meteram, junto com os outros dirigentes tupamaros, em masmorras, onde ficaram 14 anos – incluída a companheira de Pepe, hoje presidente do Senado -, 7 dos quais como reféns da ditadura, em calabouços solitários, sem contato com ninguém. Caso houvesse alguma nova ação dos tupamaros, todos seriam executados, segundo anúncio da ditadura.
Pepe não costuma mencionar esses tempos, menos ainda tudo o que passou a ele e à sua companheira. Ontem, quando as FFAA lhe rendiam continência, na Praça da Independência, em frente ao Palácio Presidencial, o que deveriam ter feito era ajoelhar-se diante dele e lhe pedir desculpas pelas barbaridades que lhe fizeram, na tortura, na solitária, e em tudo o mais. Seria o mínimo que deveria fazer e seguramente o Pepe estenderia o gesto para todas as vítimas da ditadura.
Ao assumir a presidência, Pepe pronunciou palavras similares às de Dilma no Congresso do PT: mudou, para adequar-se às mudanças históricas das últimas décadas, mas nunca mudou de campo, manteve sempre sua fidelidade às lutas de emancipação do seu povo, estreitamente associado ao dos outros países da América Latina.
Montevideu tinha uma cara muito diferente daquela com que encarou a eleição de Tabaré Vazquez, mesmo este tendo interrompido a longa seqüência de governos de direita, com a eleição do primeiro representante da esquerda uruguaia à presidência da República. A eleição de Pepe vai mais longe, remete a um acerto de contas com as lutas de resistência contra a ditadura, em que o Uruguai se tornou conhecido internacionalmente pela audácia e pela criatividade das formas luta dos Tupamaros, organização dirigida por Raul Sendic, de que Pepe Mujica foi companheiro na direção.
O comentário, entre todos os presidentes progressistas, de Rafael Correa a Evo Morales, de Cristina Kirchner a Hugo Chavez, de Fernando Lugo a Pepe Mujica, era a subida aparentemente decisiva de Dilma nas pesquisas, confirmando seu favoritismo para a mais importante das eleições latinoamericanas deste ano. A satisfação e a torcida de todos eles refletiam como Dilma representa, para todos eles – como já o expressaram também Raul e Fidel Castro – a continuidade e o aprofundamento das políticas internas e externas que tem levado o Brasil a projetar-se como grande liderança regional e como país que avança para superar seus seculares problemas internos no caminho da democracia, da soberania e das justiça social.
por Emir Sader
O Pepe, que foi um grande dirigente tupamaro e, nessa condição, foi baleado gravemente em um tiroteio com as forças militares da ditadura uruguaia. Recolheram seu corpo, consideraram-nos morto e o levaram à morgue. Quando perceberam que ele tinha sobrevivido, o meteram, junto com os outros dirigentes tupamaros, em masmorras, onde ficaram 14 anos – incluída a companheira de Pepe, hoje presidente do Senado -, 7 dos quais como reféns da ditadura, em calabouços solitários, sem contato com ninguém. Caso houvesse alguma nova ação dos tupamaros, todos seriam executados, segundo anúncio da ditadura.
Pepe não costuma mencionar esses tempos, menos ainda tudo o que passou a ele e à sua companheira. Ontem, quando as FFAA lhe rendiam continência, na Praça da Independência, em frente ao Palácio Presidencial, o que deveriam ter feito era ajoelhar-se diante dele e lhe pedir desculpas pelas barbaridades que lhe fizeram, na tortura, na solitária, e em tudo o mais. Seria o mínimo que deveria fazer e seguramente o Pepe estenderia o gesto para todas as vítimas da ditadura.
Ao assumir a presidência, Pepe pronunciou palavras similares às de Dilma no Congresso do PT: mudou, para adequar-se às mudanças históricas das últimas décadas, mas nunca mudou de campo, manteve sempre sua fidelidade às lutas de emancipação do seu povo, estreitamente associado ao dos outros países da América Latina.
Montevideu tinha uma cara muito diferente daquela com que encarou a eleição de Tabaré Vazquez, mesmo este tendo interrompido a longa seqüência de governos de direita, com a eleição do primeiro representante da esquerda uruguaia à presidência da República. A eleição de Pepe vai mais longe, remete a um acerto de contas com as lutas de resistência contra a ditadura, em que o Uruguai se tornou conhecido internacionalmente pela audácia e pela criatividade das formas luta dos Tupamaros, organização dirigida por Raul Sendic, de que Pepe Mujica foi companheiro na direção.
O comentário, entre todos os presidentes progressistas, de Rafael Correa a Evo Morales, de Cristina Kirchner a Hugo Chavez, de Fernando Lugo a Pepe Mujica, era a subida aparentemente decisiva de Dilma nas pesquisas, confirmando seu favoritismo para a mais importante das eleições latinoamericanas deste ano. A satisfação e a torcida de todos eles refletiam como Dilma representa, para todos eles – como já o expressaram também Raul e Fidel Castro – a continuidade e o aprofundamento das políticas internas e externas que tem levado o Brasil a projetar-se como grande liderança regional e como país que avança para superar seus seculares problemas internos no caminho da democracia, da soberania e das justiça social.
por Emir Sader
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