sábado, 20 de março de 2010

Minhas raízes e a hora do Adeus a Santa Maria



Era 1973, o preço da borracha em queda, não havia escolas para tirar os filhos do analfabetismo e da servidão, sem nenhuma atenção de saúde no seringal, o filho mais novo havia morrido a míngua, todo o esforço e suor derramado quase não dava mais para pagar a conta ao barracão. Meus pais chamaram filhos para dizer que não dava mais para continuar em Santa Maria.

Era preciso vender tudo para comprar uma casa na cidade. Vendemos gado, porcos, ovelhas e os equipamentos de trabalho da colocação. Chegou um batelão e começamos embarcar a bagagem da mudança. Junto também foi embarcado gado, porcos, galinhas, patos, periquito e papagaio.

Chegou a hora de desatar o barco e dar Adeus a Santa Maria. O silencio e a incerteza do nosso destino, misturava-se com o desconforto e o fedor dos amimais. O barco virou a proa pra baixo e começou descer o Rio Tarauacá. Foram três dias de Viagens até desembocar na foz do Murú “a boquinha na noite”.

Quando avistei a cidade, fiquei impressionado com a luminosidade da noite. Era apenas umas três Lâmpadas fixadas na frente do prédio da Leal Maia (Casa de aviação da família Leal). A luz da lamparina a kerozene nas noites de Santa Maria contrastava com Luz eléctrica da cidade e brilhavam forte nos meus olhos. Pensei que, estávamos chegando num mundo de luzes e facilidades, mas era muito diferente do que parecia.

Começamos desembarcar a bagagem e colocar em cima do barranco, para em seguida transportar nas costas até nossa nova casa. Eu estava ansioso para conhecer minha nova moradia. Quando chegamos a casa foi pura decepção. Encontramos uma tapéra no meio de um aningal (vegetação de igapó). Tinha apenas uma cobertura, uma parte de assoalho e duas paredes laterais. Todos os anos de trabalho do meu pai com a nossa ajuda se resumiram em nada.

A casa media 7x 5, não tinha quarto em nem cozinha, mas tinha que abrigar oito pessoas. Para nossa família, estava começando um novo desafio: Morar na cidade sem emprego, sem parentes importantes e vindos do seringal.


2 comentários:

  1. Camarada!!!
    Soube que tentou saber quem sou? Vou me apresentar , foi deselegante não ter feito isso ainda.
    Sou militante da UJS a uns 09 anos (entrei novinha com 14 anos só tenho 23) e filiada ao PCdoB desde quando foi possível.
    Nasci em Cruzeiro do Sul, sou filha de ribeinhos amazônicos porem quando nasci eles já haviam "fugido da servidão".
    Mudei há 03 anos para Rio Branco, por ter passando em um concurso público para Agente de Policia Civil. E casei com o Camarada Wladimir (talvez essa tenha sido a única informação que tenha chegado até você, infelizmente nossos camaradas muitas vezes não nos vêem como militantes apenas como mulher do camarada fulano, namorada do camarada beltrano). Sou jovem mulher comunista.
    Atualmente faço parte da Direção municipal da UJS e Participo da Escola de Formação do Partido. Curso letras na UFAC. Gosto de literatura política.
    E Continuo com vida orgânica de militante dentro do que a minhas possibilidades permitem. Adoro ler os blogs dos meus camaradas e conterrâneos alem do mundo de informação disponível com a internet
    É por ai!!! Agora que me apresentei posso continuar lendo e comentando seus textos!!!?

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  2. A continuidade do seu texto, esta revelando a epopéia de vivida ainda hoje por famílias amazônicas. Para livrar-se da miséria e sofrimento abandonam tudo de tem e migram pra cidade, em busca de vida melhor.
    Migrar por longas distancias faz referencia literária com outras epopéias clássicas, tenho que ler mais do seu texto pra ter certeza sobre o que falo e estudar mais sobre literatura e oralidade. Mais há uma coisa marcante em todos os textos seus que já li, é o teor autobiográfico. Na medida em que narra denuncia e esclarece a realidade do nosso inferno verde. Vamos ver o que ainda tem para revelar daqui em diante...

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