O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), demorou meses para revelar seu segredo de polichinelo e confirmar que seria candidato à Presidência da República. Agora, corre contra o tempo para tentar arranjar um candidato a vice que sustente suas pretensões. Nesta busca, Serra tem enroscado em muitas encrencas e pode acabar tendo que engolir um companheiro ou companheira de chapa com potencial para tirar mais votos do que agregar.
Charge de Alves para A Charge Online
Antes de explodir o escândalo político no Distrito Federal, Serra namorava a idéia de convidar o então único governador do Democratas, José Roberto Arruda, para ser seu vice. Mas agora Arruda está preso e, de quebra, arrastou para o buraco a credibilidade do seu antigo partido, o DEM, causando um tremendo mal estar para a aliança demo-tucana.
Com o DEM enfraquecido, fortaleceu-se entre os tucanos a proposta de formar uma chapa puro sangue, com um vice do próprio PSDB. O nome para ocupar tal posto era incontestavelmente o do governador mineiro Aécio Neves, tido e havido nas rodas oposicionistas como a verdadeira salvação da lavoura.
Acontece que o neto de Tancredo só foi cogitado para a vaga de vice pois suas pretensões eleitorais de ser o cabeça da chapa foram simplesmente tratoradas pelo tucanato paulista, que impôs Serra como candidato à sucessão de Lula. Analistas que desfrutam de alguma intimidade com Aécio dizem que a forma como o governador mineiro foi preterido na escolha provocou uma mágoa difícil de ser superada.
Os tucanos ainda tentam convencer Aécio a aceitar o papel secundário de vice de Serra. Mas o governador mineiro já deu todos os sinais de que não vai embarcar nesta canoa. Assim, Serra não apenas perde o seu “vice ideal” como também abre espaço para que parte do eleitorado mineiro dê o troco em outubro, preferindo votar em outra mineira, a pré-candidata petista Dilma Rousseff. Além disso, com Aécio fora da disputa presidencial, o DEM sentiu-se encorajado a reivindicar novamente a vaga de vice.
Demos à disposição
E aí novas encrencas surgem no já nebuloso horizonte eleitoral do tucano. Os nomes cogitados pelo DEM oscilam entre o indesejável e o insosso. Até o momento, a imprensa apresentou três pretensas indicações: a senadora Kátia Abreu (TO), o ex-governador da Bahia Paulo Souto e o senador Agripino Maia (RN).
Destes três nomes cogitados pelo DEM, a senadora Kátia Abreu pode parecer, à primeira vista, ser a melhor opção: é mulher (ajudaria numa disputa em que a principal adversária de Serra também é uma mulher), é de um estado da região Norte-Nordeste do país (onde Serra precisa de mais votos) e preside a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), representando um setor importante do país, o dos produtores rurais. Porém --e este é um grande porém—os interesses que Kátia Abreu defende estão identificados com o que há de mais atrasado na política brasileira. Líder da bancada ruralista, a senadora não se envergonha de defender pessoas, empresas e projetos que flertam com o trabalho escravo, o trabalho infantil, o desmatamento, a poluição, a violência no campo, a grilagem, a concentração de terras e várias outras mazelas praticadas pelo latifúndio. Não bastasse isso, ela também é acusada de desviar verbas da CNA para irrigar suas próprias campanhas eleitorais. Não é à toa que entre os três nomes cogitados pelo DEM, o da senadora é o que José Serra menos gostaria de ter como companheira de chapa, ainda mais numa disputa em que os temas ambientais estarão em evidência.
Indiferente à opinião do governador paulista, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), outro arauto dos interesses do latifúndio, defende a senadora. Questionado sobre a resistência de Serra ao nome de Kátia Abreu, ele despista: “Não sei fazer essa análise. Não posso dizer o que o PSDB pensa”.
Segundo Caiado, não é hora de colocar a questão do vice em primeiro plano. “É preciso fazer esse debate como menos paixão e mais racionalidade. O partido tem quadros, vai discutir, não pode ter uma posição 100% rígida. Tem que buscar uma somatória [à candidatura Serra], temos que construir uma chapa vencedora”, disse o deputado em entrevista ao site Terra Magazine.
Apesar do apelo de Caiado por um debate com menos afobamento, dois outros nomes já começam a ser ventilados entre os demos: o do ex-governador baiano Paulo Souto e o do líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN).
Souto insiste na tese de que será candidato ao governo da Bahia, com a missão de ressuscitar o carlismo naquele estado. A escolha de seu nome seria conveniente para Serra por dois motivos: ele é de um estado nordestino e sua saída da disputa pelo governo baiano poderia ampliar o apoio a Serra no estado. “A indicação de Souto poderia ganhar força caso abrisse canal de negociação com o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) na Bahia. O PSDB poderia apoiar Geddel no Estado, se o acordo tirar o PMDB do palanque de Dilma”, especula a Folha de S. Paulo em matéria publicada nesta terça (23). Mas tal especulação parece muito mais a expressão do desejo do tucanato de ter um palanque ampliado na Bahia do que propriamente a intenção dos candidatos ao Palácio de Ondina.
Restaria então o nome de Agripino Maia. O senador potiguar, apesar de também ser do Nordeste, vem de um estado com um eleitorado relativamente pequeno (pouco mais de 2 milhões de eleitores) e seu perfil de coronel conservador não agregaria muita coisa à campanha de Serra. Seria a última opção do DEM.
Nova versão de chapa puro sangue
Diante de opções pouco entusiásticas, aliados de Serra, especialmente na mídia, começam a ventilar a hipótese de uma nova versão de chapa puro sangue tucana, mas com o prefeito de Curitiba, Beto Richa, na vice. Richa é pré-candidato ao governo do Paraná. Lidera todas as pesquisas até o momento e nada indica que está disposto a trocar uma quase certa eleição ao Palácio Iguaçu (sede do governo paranaense) por uma quase certa derrota ao Palácio do Jaburu (residência oficial do vice-presidente).
Além disso, várias lideranças do DEM continuam defendendo que só se justifica uma chapa puramente tucana se Aécio for o vice. Se não for, o vice teria que ser de outro partido, ou seja, teria que ser do DEM, já que o PPS, que deve compor a coligação que dará suporte à candidatura Serra, não tem sido nem sequer cogitado para indicar um vice na chapa presidencial. E também não tem lideranças à altura do posto para oferecer.
Todas estas incertezas que cercam a escolha de um vice para José Serra revelam que o consórcio oposicionista ainda está sem rumo e se não encontrá-lo em breve poderá tornar ainda mais tormentosa uma campanha que já se desenha bastante difícil para a direita.
Cláudio Gonzalez
Charge de Alves para A Charge Online
Antes de explodir o escândalo político no Distrito Federal, Serra namorava a idéia de convidar o então único governador do Democratas, José Roberto Arruda, para ser seu vice. Mas agora Arruda está preso e, de quebra, arrastou para o buraco a credibilidade do seu antigo partido, o DEM, causando um tremendo mal estar para a aliança demo-tucana.
Com o DEM enfraquecido, fortaleceu-se entre os tucanos a proposta de formar uma chapa puro sangue, com um vice do próprio PSDB. O nome para ocupar tal posto era incontestavelmente o do governador mineiro Aécio Neves, tido e havido nas rodas oposicionistas como a verdadeira salvação da lavoura.
Acontece que o neto de Tancredo só foi cogitado para a vaga de vice pois suas pretensões eleitorais de ser o cabeça da chapa foram simplesmente tratoradas pelo tucanato paulista, que impôs Serra como candidato à sucessão de Lula. Analistas que desfrutam de alguma intimidade com Aécio dizem que a forma como o governador mineiro foi preterido na escolha provocou uma mágoa difícil de ser superada.
Os tucanos ainda tentam convencer Aécio a aceitar o papel secundário de vice de Serra. Mas o governador mineiro já deu todos os sinais de que não vai embarcar nesta canoa. Assim, Serra não apenas perde o seu “vice ideal” como também abre espaço para que parte do eleitorado mineiro dê o troco em outubro, preferindo votar em outra mineira, a pré-candidata petista Dilma Rousseff. Além disso, com Aécio fora da disputa presidencial, o DEM sentiu-se encorajado a reivindicar novamente a vaga de vice.
Demos à disposição
E aí novas encrencas surgem no já nebuloso horizonte eleitoral do tucano. Os nomes cogitados pelo DEM oscilam entre o indesejável e o insosso. Até o momento, a imprensa apresentou três pretensas indicações: a senadora Kátia Abreu (TO), o ex-governador da Bahia Paulo Souto e o senador Agripino Maia (RN).
Destes três nomes cogitados pelo DEM, a senadora Kátia Abreu pode parecer, à primeira vista, ser a melhor opção: é mulher (ajudaria numa disputa em que a principal adversária de Serra também é uma mulher), é de um estado da região Norte-Nordeste do país (onde Serra precisa de mais votos) e preside a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), representando um setor importante do país, o dos produtores rurais. Porém --e este é um grande porém—os interesses que Kátia Abreu defende estão identificados com o que há de mais atrasado na política brasileira. Líder da bancada ruralista, a senadora não se envergonha de defender pessoas, empresas e projetos que flertam com o trabalho escravo, o trabalho infantil, o desmatamento, a poluição, a violência no campo, a grilagem, a concentração de terras e várias outras mazelas praticadas pelo latifúndio. Não bastasse isso, ela também é acusada de desviar verbas da CNA para irrigar suas próprias campanhas eleitorais. Não é à toa que entre os três nomes cogitados pelo DEM, o da senadora é o que José Serra menos gostaria de ter como companheira de chapa, ainda mais numa disputa em que os temas ambientais estarão em evidência.
Indiferente à opinião do governador paulista, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), outro arauto dos interesses do latifúndio, defende a senadora. Questionado sobre a resistência de Serra ao nome de Kátia Abreu, ele despista: “Não sei fazer essa análise. Não posso dizer o que o PSDB pensa”.
Segundo Caiado, não é hora de colocar a questão do vice em primeiro plano. “É preciso fazer esse debate como menos paixão e mais racionalidade. O partido tem quadros, vai discutir, não pode ter uma posição 100% rígida. Tem que buscar uma somatória [à candidatura Serra], temos que construir uma chapa vencedora”, disse o deputado em entrevista ao site Terra Magazine.
Apesar do apelo de Caiado por um debate com menos afobamento, dois outros nomes já começam a ser ventilados entre os demos: o do ex-governador baiano Paulo Souto e o do líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN).
Souto insiste na tese de que será candidato ao governo da Bahia, com a missão de ressuscitar o carlismo naquele estado. A escolha de seu nome seria conveniente para Serra por dois motivos: ele é de um estado nordestino e sua saída da disputa pelo governo baiano poderia ampliar o apoio a Serra no estado. “A indicação de Souto poderia ganhar força caso abrisse canal de negociação com o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) na Bahia. O PSDB poderia apoiar Geddel no Estado, se o acordo tirar o PMDB do palanque de Dilma”, especula a Folha de S. Paulo em matéria publicada nesta terça (23). Mas tal especulação parece muito mais a expressão do desejo do tucanato de ter um palanque ampliado na Bahia do que propriamente a intenção dos candidatos ao Palácio de Ondina.
Restaria então o nome de Agripino Maia. O senador potiguar, apesar de também ser do Nordeste, vem de um estado com um eleitorado relativamente pequeno (pouco mais de 2 milhões de eleitores) e seu perfil de coronel conservador não agregaria muita coisa à campanha de Serra. Seria a última opção do DEM.
Nova versão de chapa puro sangue
Diante de opções pouco entusiásticas, aliados de Serra, especialmente na mídia, começam a ventilar a hipótese de uma nova versão de chapa puro sangue tucana, mas com o prefeito de Curitiba, Beto Richa, na vice. Richa é pré-candidato ao governo do Paraná. Lidera todas as pesquisas até o momento e nada indica que está disposto a trocar uma quase certa eleição ao Palácio Iguaçu (sede do governo paranaense) por uma quase certa derrota ao Palácio do Jaburu (residência oficial do vice-presidente).
Além disso, várias lideranças do DEM continuam defendendo que só se justifica uma chapa puramente tucana se Aécio for o vice. Se não for, o vice teria que ser de outro partido, ou seja, teria que ser do DEM, já que o PPS, que deve compor a coligação que dará suporte à candidatura Serra, não tem sido nem sequer cogitado para indicar um vice na chapa presidencial. E também não tem lideranças à altura do posto para oferecer.
Todas estas incertezas que cercam a escolha de um vice para José Serra revelam que o consórcio oposicionista ainda está sem rumo e se não encontrá-lo em breve poderá tornar ainda mais tormentosa uma campanha que já se desenha bastante difícil para a direita.
Cláudio Gonzalez
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