sábado, 6 de março de 2010

Minhas Raízes e a cara da morte

Meu pai e minha mãe não gostavam de ficar mudando de seringal para seringal, moravam em Santa Maria há mais de 30 anos, trabalhando, procurando honrar os compromissos com o barracão, zelando o nome da família e criando seus filhos com o mínimo de dignidade.

Eu já era “dono” de uma estrada, estava animado- meu irmão caçula de seis anos de idade seria meu companheiro para me ajudar a ganhar uma parea de estrada e continuar o sonho de colocar um relógio automático pulso. Meu irmão tinha muita semelhança comigo, enquanto ele crescia mais um pouco eu cortava sozinho ou acompanhando meu irmão mais velho.

Uma noite, estava dormindo e acordei em meio um barulho assustador. Toda minha família chorava desesperadamente. Levantei e uma de minhas irmãs veio ao meu encontro chorando e pedido calma para o que eu em seguida ia presenciar. Entrei no quarto e encontrei meu irmão caçula desfigurado, com os olhos embaçados- estava morto. A dor da perda se misturava com a interrogação: O que havia acontecido. Antes de dormir ele apresentava apenas um pouco de febre e diarreia.

Ficamos todos desesperados. Eu mais ainda, nunca tinha visto a “cara da morte”. Meu irmão e futuro companheiro de selva estava sem vida. A agonia tomou conta de todos. Não tinha urna nem vela. O corpo foi colocado em cima de uma pequena mesa. Bastou esfriar, uma grande quantidade de vermes começou sair dos seus olhos, nariz, boca e ouvido. Uma cena Horrível. Isso me supõe dizer que meu irmão faleceu afixiado por um ataque de vermes malditas.

Não existia nenhum tipo de assistência de saúde ou medicamentos na região. Qualquer dor e problema grave, todos tinham que recorrer a um chá, um cozimento ou um rezador. Éramos prisioneiros, "a vida ali não valia uma cibazol" . A perda do meu irmão naquelas condições levou minha família a discutir deixar Santa Maria e buscar outro lugar para viver.

A morte repentina do filho mais novo foi um golpe muito duro para toda família. A ausência cruel do estado estava nos empurrando para a cidade. Não era fácil deixar Santa Maria, mas estávamos todos desmotivados para continuar, mesmo sabendo que seria doloroso e triste a partida.

2 comentários:

  1. Parabéns! Adoro suas histórias...Fico anciosa q chegue sábado para saber mais um pouquinho de suas raízes...


    Te adimiro muito.

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  2. Camarada,
    Infelizmente a miséria assola os seringais acreanos e muitos outros rincões deste país. Ela é uma das causas da nossa luta, acabar com a miséria e a pobreza, levar condições básicas de sobrevivência à todos, sem contudo, destruir o “modus viviend” do ribeirinho amazônico.
    Batista,
    Seu texto é simples, polido, sem o rigor exigido por um critico literário, contudo a simplicidade traz a pureza das emoções despertadas por histórias tão próximas de nos acreanos e capazes de despertar sentimentos inerentes a todos. Àqueles que conhecem e não conseguem um pouco do inferno e paraíso verde que é a Amazônia . Com suas distancias quilométricas e seu abandono.

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